Maputo acorda com mais um empresário raptado

Governo moçambicano reúne sobre raptos e discute plano de acção. Novo director dos Serviços de Segurança vai provocar mudanças estratégicas

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Em muitos casos, os raptores não são de Maputo, o que facilita os raptos e dificulta as detenções Manuel Roberto

O proprietário de uma fábrica de farinhas de Maputo foi raptado na quinta-feira de manhã na Matola, nos arredores da capital de Moçambique, à porta do seu escritório. O empresário, um queniano de origem indiana, encaixa no padrão habitual: é um estrangeiro com dinheiro.

Os raptos em Moçambique continuam a ser frequentes e têm como alvo dominante empresários de origem asiática e do Médio Oriente. Em Janeiro, um libanês foi raptado e libertado dias depois. Os resgates envolvem valores muito elevados, normalmente entre 500 mil e um milhão de dólares.

Na sexta-feira de manhã e na véspera à noite, o governo moçambicano reuniu para analisar a estratégia de combate aos raptos. Quatro fontes, incluindo altos quadros da Administração pública e do sector privado com fortes laços ao país, disseram ao PÚBLICO que Maputo está a tentar “deslindar o novelo” dos raptos e perceber melhor as ligações à África do Sul, país vizinho, e à banca moçambicana.

As vítimas nem sempre são empresários conhecidos, mas têm sempre capacidade para pagar as elevadíssimas quantias exigidas. Em muitos casos, os raptores não são de Maputo, o que facilita os raptos e dificulta as detenções. Há três meses, porém, foi detido um raptor de nacionalidade sul-africana.

Há a percepção de que os raptos aumentaram desde o Mundial de Futebol na África do Sul, em 2010, quando o reforço de segurança empurrou para fora das fronteiras algumas redes de criminalidade. A 30 de Janeiro, o Presidente Nyusi nomeou um novo director-geral do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) e também um novo director adjunto, afastando a equipa do ex-Presidente Armando Guebuza. O novo homem forte da segurança é Lagos Lidimo, um general reformado da era de Joaquim Chissano e conhecido por ser implacável antes, durante e depois das guerras colonial e civil.

Para alguns especialistas, esta mudança é vista como um reforço político e de consolidação de poder do Presidente - são ambos da etnia maconde e em Moçambique o poder ainda é distribuído em função da lealdade étnica.

Mas a chegada do general Lidimo também é vista como sinal de que o Governo poderá estar a preparar algumas mudanças: nas negociações com a Renamo (para a paz), com os doadores internacionais (por causa do escândalo da dívida de 2,2 mil milhões envolvendo três empresas controlados pelo próprio SISE) e com o governo, para apertar o cerco às redes dos raptos. Neste desafio, acreditam alguns observadores, o general vai querer fazer uma "limpeza" e "mostrar resultados”.

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