PSD e CDS articulam estratégia para desgastar ministro e maioria de esquerda

Líderes parlamentares juntam esforços para pressionar titular da pasta das Finanças, Mário Centeno.

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Mário Centeno, ministro das Finanças LUSA/MÁRIO CRUZ

O PSD e o CDS-PP articularam posições para aplicar uma estratégia comum de ofensiva contra o ministro das Finanças e a maioria de esquerda no caso da Caixa Geral de Depósitos (CGD). A concertação foi feita a nível parlamentar, mas com o conhecimento dos líderes dos dois partidos ao mais alto nível, para várias iniciativas: a intervenção na audição do ministro durante a manhã, a contestação ao “boicote” da esquerda na comissão de inquérito à CGD na conferência de líderes e as declarações políticas em plenário sobre a actuação de PS, BE e PCP neste caso.

Apesar de sempre ter existido troca de informação sobre a actuação de cada bancada desde que se desfez a coligação de Governo, PSD e CDS decidiram agora juntar forças na oposição para apontar baterias ao executivo de António Costa e à maioria que suporta o Parlamento. Essa estratégia comum foi acertada na terça-feira à noite para a audição desta manhã, ministro das Finanças, Mário Centeno, na comissão de Finanças, onde a questão da troca de sms entre o governante e o anterior presidente da CGD, António Domingues, não deveria assumir preponderância nas perguntas dos deputados da direita. Essa questão seria antes levantada na conferência de líderes, que reuniu ao final da manhã. Tanto o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, como o do CDS, Nuno Magalhães, contestaram a decisão da maioria de esquerda – PS, PCP e BE – na comissão de inquérito de rejeitar dar a conhecer a troca de comunicações entre o ministro e António Domingues a propósito da entrega de declarações de rendimentos da anterior administração do banco público.

Ferro não dá razão ao PSD

Na conferência de líderes, Luís Montenegro e Nuno Magalhães apelaram ao Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, para exercer a sua magistratura de influência no sentido de sensibilizar as bancadas de esquerda sobre a posição que tomaram na comissão de inquérito à CGD. Ao que o PÚBLICO apurou, o tom da resposta foi duro e Ferro Rodrigues disse considerar um “abuso” que os partidos tivessem feito um pedido nesse sentido. Aliás, disse mesmo, segundo o briefing oficial, que o PSD prestou um “mau serviço ao país” ao trazer para a conferência de líderes questões relativas à comissão de inquérito. A discussão mais quente terá sido entre o líder da bancada do PCP, João Oliveira, e Luís Montenegro. Aliás, no final da reunião, nas declarações dos dirigentes aos jornalistas foram mais severos o PCP e o BE do que o PS.

A pressão não iria terminar por aí. Os dois partidos decidiram aproveitar as declarações políticas do plenário, à tarde, para manter o tema na agenda. Hugo Soares, vice-presidente da bancada do PSD, acusou PS, PCP e BE de serem um “rolo compressor”, de “boicotar a democracia” de “não deixarem fazer perguntas” por ter “medo das respostas”, fazendo alusão a “totalitarismos” que a esquerda apoia noutros pontos do mundo. Tanto PS como PCP e BE acusaram o PSD de usar a CGD para a destruir.

O social-democrata aproveitou para lançar a pergunta ao ministro Mário Centeno sobre se é verdade a notícia da SIC em torno de um SMS seu em que diz ter “o ok do primeiro-ministro e que Domingues “está livre de entregar as declarações” de rendimentos. “O senhor ministro tem o topete de desmentir os SMs que vieram a lume?”, questionou.

Na mesma linha, o deputado do CDS João Almeida também falou em totalitarismos e em “rolo compressor. “O que está em causa é a tentativa de uma maioria de impor a lei da rolha a uma minoria que tem direitos mas que não os pode exercer”, afirmou o deputado. Nesta declaração política, só o PSD fez perguntas. As restantes bancadas não se inscreveram para interpelar o CDS.

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