Carlos Costa, o grande empregador

Poderíamos dizer que o aumento de pessoal no Banco de Portugal entre 2013 e 2016 teve como reflexo uma melhoria assinalável do serviço prestado. Poderíamos dizê-lo, mas não estaríamos a ser sérios.

Sete de Junho de 2010. Carlos Costa tomava posse como governador do Banco de Portugal (BdP). No discurso, o líder do BdP dava os primeiros sinais de uma actuação pautada pelos apelos à necessidade de o país poupar. De diminuir o défice. De apostar nas exportações. De aumentar a produtividade. De rever o processo de formação de salários.

O ano de 2010 foi também mais um ano em que o BdP diminuiu o número de funcionários. Era uma redução previsível e justificada. Com a criação do Banco Central Europeu (BCE), o BdP perdia, por exemplo, a condução da política monetária.

Mais tarde, logo em 2011, Portugal batia com estrondo “contra a parede” e era obrigado a pedir ajuda externa naquele que viria a ser um violento processo de ajustamento. Perda de salários, aumento do desemprego, corte nas transferências sociais, emagrecimento do Estado. Entre 2011 e meados de 2016, por exemplo, houve um corte no número de funcionários públicos superior a 70 mil. Neste período, Carlos Costa esteve sempre do mesmo lado. O da ‘troika’ e das políticas de austeridade.

Mas o ano de 2011 foi, também, um ano marcante no BdP. O número de funcionários do banco voltou a subir. E voltou a subir em 2013 e em 2014 e em 2015 e em 2016. Pelo meio, o BdP ainda perdeu competências na área da supervisão.

Poderíamos dizer que este aumento de pessoal teve como reflexo uma melhoria assinalável do serviço prestado pelo BdP. Poderíamos dizê-lo, mas não estaríamos a ser sérios. Um BPN, um BPP, um BES, um Banif e um Novo Banco depois bastam para avaliar a excelência de actuação do BdP.

Nada acontece por acaso. E o que acontece hoje não é da exclusiva responsabilidade de Carlos Costa. A Europa alicerçou-se num modelo de funcionamento que atribui ao BCE e aos bancos que dele fazem parte um poder tal que estes são estados dentro dos próprios estados, sem terem de prestar contas a quase ninguém.

Poderíamos dizer que tem de ser assim. Os bancos centrais têm de ser independentes do poder político. Poderíamos dizê-lo e é verdade. Mas também é demagógico. Os bancos centrais têm de ser independentes do poder político, mas só para definirem a política monetária.

Poderíamos dizer que o BdP não esteve sozinho no que diz respeito à evolução do número de funcionários. E não esteve. Entre os 19 países que fazem parte do euro, houve mesmo cinco que aumentaram o número de funcionários entre 1999 e 2016. Treze outros bancos centrais diminuíram o número de funcionários. Em média, os 19 do euro reduziram o número de funcionários em mais de 20%. O BdP manteve praticamente inalterado o número de trabalhadores. Mas só porque a partir de 2010 teve Carlos Costa como grande empregador.

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