Marcelo: "O Presidente tinha de mostrar uma posição de apoio ao Governo"

A entrevista ao jornal El País é publicada este domingo, em papel.

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Marcelo foi entrevistado pelo El País, em Madrid Rui Gaudêncio

A um mês de celebrar um ano como Presidente da República empossado, Marcelo Rebelo de Sousa dá, este domingo, uma entrevista ao diário espanhol El País, na qual faz a apologia da geringonça e do país positivo. Há um ano, o mesmo jornal chamava-lhe, em título, “filho de Deus e do diabo” e explicava que o novo presidente português era “hiperactivo e noctívago”. Tudo menos “um político convencional”.

“Portugal vive uma experiência inédita”
É assim que Marcelo Rebelo de Sousa se refere à solução governativa engendrada por António Costa na sequência das legislativas de 2015 e que junta BE, PCP e PEV no apoio ao Governo socialista. E com razão. Por mais alianças à direita que tenha havido em Portugal, de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa a Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, a esquerda nunca havia conseguido coligar-se. E "a coligação de esquerdas superou as expectativas", analisa Marcelo na entrevista.

“O Governo demonstrou que mantinha o défice controlado"
Uma das razões por que a coligação surpreendeu pela positiva tem a ver com os resultados que apresentou em algumas áreas. O Presidente da República explica ao El País, que “depois dos primeiros trimestres difíceis, com um crescimento do PIB quase nulo, o Governo demonstrou conseguir manter sob controlo o défice; promover uma recuperação do emprego; e conduzir a um maior crescimento do PIB. Porquê? Porque o Governo partiu para as negociações de 2016 com o pressuposto de que era essencial aceitar o compromisso europeu com Bruxelas”.

“Este Governo tinha diante de si um complexo problema bancário”
Mais uma vez, em matéria de banca, Marcelo elogia o Governo. Diz que “foram dados muitos passos em frente” e que, este ano, “a consolidação da banca foi essencial”. Tudo isto num clima, avança o Presidente, que “ao início era muito crítico” desta nova fórmula política. “Como é possível gerir toda esta situação com um Governo minoritário com o apoio parlamentar de uma esquerda considerada radical e anti-sistema? Fizeram-no, superaram as expectativas iniciais e para Portugal isso foi positivo. Agora há que ir mais além no crescimento e nas reformas estruturais do Estado”.

“O Presidente tinha de mostrar uma posição de apoio ao Governo”
Ao El País, Marcelo Rebelo de Sousa explica pela primeira vez a relação que mantém com o Governo de António Costa. “O Presidente tinha de mostrar uma posição de apoio ao Governo. Não um apoio incondicional, mas um apoio com condições claras, que implicavam: o controlo do défice, o respeito pelos compromissos europeus e com a Nato e a condição de haver uma distensão política”. Tudo acabou por gerar “um ambiente distendido, não tão crispado”. Sem fazer referências à oposição, o chefe de Estado salienta “a boa cooperação entre Presidente, Governo e Parlamento”.

“Não há uma família em que os irmãos ou os cônjuges não tenham um ponto, dois pontos de divergência”
Marcelo defende que Portugal e Espanha devem ser “um exemplo de estabilidade política e económica”, numa altura em que “noutros países vizinhos há eleições, debates, dúvidas sobre políticas europeias essenciais”. Para Marcelo, tudo o que contribua para a “estabilidade dos países europeus, ajuda”. Nesse contento, e apesar de haver uma sombra nuclear a pairar sobre uma “relação excelente”, o Presidente minimiza o diferendo em relação a Almaraz porque não há famílias sem pontos de divergência. “Há que resolvê-los. Não é um drama”.

“Os nacionalismos são uma resposta de autodefesa perante as mudanças”
Nacionalismos, proteccionismos, os novos “ismos” da política também são abordados na entrevista que Marcelo dá ao el País. Diz o Presidente que “o egoísmo dos tempos de crise, que cerra portas, não abre novas perspectivas num momento em que é necessária a inovação. Necessitamos de mais cultura política”, conclui. “Muitos líderes não conhecem a fundo a história e a geografia. Têm visão de curto prazo. Precisamos de uma visão mais ampla, de um mundo menos paroquial, menos fechado. Ainda sobre os nacionalismos diz que “a sua visão é errónea” e acrescenta que “a humanidade caminha no sentido oposto”, o da abertura. “Tudo o que seja fechar horizontes é uma visão condenada”.

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