Papa Francisco defende direito dos rohingya de viverem a fé muçulmana

O líder da Igreja Católica criticou o Governo da Birmânia pelos ataques aos rohingya, que a ONU considera uma das etnias mais perseguidas do mundo.

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Actualmente, a maioria dos rohingya vivem em campos de refugiados na costa do estado de Rakhine, e alguns permanecem num ghetto cercado perto da cidade de Sittwe, no centro de país. Reuters/DAMIR SAGOLJ

O Papa Francisco lançou fortes críticas aos ataques do Exército birmanês contra os rohingya, a minoria muçulmana da Birmânia. “Eles têm sofrido há anos, foram torturados, mortos, simplesmente porque queriam viver a sua cultura e a sua fé muçulmana”, disse.

“Eles foram expulsos da Birmânia, movidos de um lugar para o outro porque ninguém os quer. Mas eles são pessoas boas, pessoas pacíficas. Não são cristãos. São boas pessoas. Eles são os nossos irmãos e irmãs”, afirmou o líder da Igreja Católica.

As declarações do Papa Francisco, durante a audiência semanal, surgem depois do relatório da ONU da semana passada, que revela atrocidades contra os rohingya. No relatório, vítimas de agressões contaram detalhes de homicídios e violações em massa levadas a cabo no estado de Rakhine, onde vive a maioria deste grupo étnico.

Sem condições de vida, os rohingya tentam a sorte nos países vizinhos da Malásia e Bangladesh. É aí que o gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos documenta os testemunhos de grupos de pessoas rohingya que conseguiram passar a fronteira, uma vez que a entrada de jornalistas e investigadores da ONU em Rakhine não é permitida.

Linnea Arvidsson, uma das quatro pessoas que redigiram o relatório, falou com o jornal britânico The Independent e enfatizou a gravidade da situação. “Nunca me deparei com uma situação como esta, onde tu fazes 204 entrevistas e cada pessoa com quem tu falas tem uma história dramática, quer a casa deles tenha sido queimada, eles tenham sido violados ou um parente tenha sido morto ou levado.”

Depois da divulgação do relatório, Zeid Ra’ad al Hussein, alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, garantiu que a Nobel da Paz e líder de facto do Governo da Birmânia, Aung San Suu Kyi, vai investigar as denúncias contra as forças de segurança birmanesas. Esta promessa de Suu Kyi revela uma mudança de atitude da líder que no passado acusou o grupo étnico de inventar mentiras relativamente aos ataques.

Minoria muçulmana num país maioritariamente budista, os rohingya não têm direito à cidadania birmanesa e os seus direitos civis são quase inexistentes. Não têm liberdade de circulação, não têm direito de voto e o casamento requer autorização. Tudo isto é consequência de uma lei de nacionalidade rigorosa que limita os direitos políticos, sociais e civis às 135 “raças nacionais”.

A ofensiva do Exército birmanês contra os rohingya intensificou-se a 9 de Outubro quando centenas de homens rohingya armados com facas, fisgas e algumas armas de fogo atacaram três postos militares na fronteira com o Bangladesh, na zona do estuário do rio do Naf.

Depois de Htin Kyaw ter subido ao cargo de Presidente da Birmânia em 2016, tornando-se no primeiro chefe de Estado civil a ser democraticamente eleito desde 1962, data do golpe de Estado que resultou em mais de cinco décadas de ditadura militar, esperava-se uma diminuição da opressão das minorias étnicas do país. Contudo, os militares mantêm o domínio político, visto que detêm 25% dos lugares no Parlamento e a liderança de três ministérios.

Texto editado por Hugo Daniel Sousa

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