Madeira quer dominar produção de peixe em aquicultura

Temperatura da água e aposta na investigação tornam esta indústria apetecível no arquipélago. Até ao final do ano o número de empresas vai triplicar e objectivo é chegar às cinco mil toneladas em 2020

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Temperatura média anual da água permite encurtar o tempo de produção Nuno Ferreira Santos

Com uma produção próxima das 450 toneladas por ano – cerca de metade da produção nacional -, a aquicultura na Madeira está a viver um período de expansão. Neste momento existem duas empresas em actividade, mas o ano vai fechar com mais quatro, que estão a ultimar os processos de licenciamento, e vão iniciar nos próximos meses a produção.

A perspectiva, adianta ao PÚBLICO o director regional de Pescas, Luís Ferreira, é atingir as cinco mil toneladas de pescado em 2020. Um valor conservador, já que o investimento privado em fase de implantação e outros que existem em fase de projecto podem aumentar a produção para números próximos das seis mil toneladas anuais.

Para este boom tem contribuído uma conjugação de dois factores. Se por um lado as condições climatéricas do arquipélago potenciam a actividade, já que a temperatura média anual permite encurtar o tempo de produção em cerca de quatro meses, por outro está o investimento feito pelo governo madeirense na investigação.

“O Centro de Maricultura da Calheta (CMC) tem vindo a apoiar tecnicamente as pisciculturas, através de serviços de extensão das suas equipas técnicas, de acções de formação a vários níveis e ainda, com a produção de juvenis fornecidos aos piscicultores privados”, explica Luís Ferreira, admitindo que a capacidade de produção daquele centro está ainda aquém das necessidades dos produtores.

Por ano, a indústria necessita de dois milhões de juvenis, mais do que aquele centro, que está integrado na orgânica da Secretaria Regional de Agricultura e Pescas através da Direcção Regional de Pescas, consegue produzir. Por isso, uma fatia considerável de juvenis é ainda importada.

As principais espécies que saem das jaulas colocadas no mar da Madeira são a dourada e o charuteiro, mas o CMC tem “assegurado a investigação” em novos peixes de forma a garantir a sustentabilidade da indústria. “Foi fechado o ciclo de produção do pargo e do sargo, este último actualmente com produções em escala piloto em colaboração com piscicultores privados”, adianta o director regional de Pescas

A aposta, garante Luís Ferreira, passa por potenciar ainda mais a investigação em termos técnicos e científicos, face ao crescimento da indústria na região. A Madeira, acrescenta, oferece condições para a criação de um centro de desenvolvimento e inovação em aquacultura, que sirva não só a produção regional como toda a indústria europeia.

O país, apesar do potencial que a costa atlântica oferece, tem ainda uma produção residual. E mesmo o conjunto da União Europeia importa 65% do pescado que consume, parte dele com origem em aquicultura. Isto numa altura em que a produção aquícola mundial, incluindo plantas aquáticas, já supera a da pesca tradicional.

O marco foi 2014. Um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), divulgado no ano passado, indicava que pela primeira vez a aquacultura superou os números da produção obtida através de capturas, representando 52% da quota de mercado.

Jerónimo Maritns investe

Na Madeira, o sector vale, para já, cerca de um milhão de euros por ano, com Espanha e França a absorverem a maior fatia da produção, que é também consumida pelo mercado nacional. O sector despertou o interesse do grupo Jerónimo Martins que em Junho do ano passado formalizou um acordo com uma empresa local, a Marisland, para a produção de dourada.

Numa primeira fase, a empresa que nasceu dessa parceria, a Tomorrow Star, prevê produzir 700 toneladas. “Estamos a trabalhar nas licenças das instalações, e estimamos em Maio colocar os equipamentos no mar”, explicou ao PÚBLICO o responsável pela Marisland, Carlos Batista.

Trata-se de um investimento conjunto de quatro milhões de euros, que em Junho do próximo ano começará a ter retorno. “Vamos iniciar a produção já este Verão e só em 2018 é que iremos comercializar o primeiro pescado”, acrescenta o administrador, que, como empresário e como investigador, já leva mais de uma década ligado à indústria.

A ideia da parceria, diz, partiu dele, mas a produção não se irá esgotar nos supermercados Pingo Doce da Jerónimo Martins. Será um cliente privilegiado, naturalmente, até porque as previsões apontam para que 30% da dourada vendida na rede de lojas do grupo saia da Tomorrow Star, mas o objectivo passa também pela exportação.

O passo seguinte passa por aumentar a produção. Primeiro para as 1200 toneladas e depois desenvolver a empresa para as 2200 toneladas anuais. O projecto, explicou Carlos Batista, prevê também uma componente de investigação e aí deverá contar com fundos europeus, através de candidaturas aos programas existentes.

A montante, o governo madeirense, promete mais investimento na CMC, que tem na Universidade da Madeira um importante parceiro. O líder do executivo regional, Miguel Albuquerque, já anunciou um plano a 10 anos com o objectivo de reforçar os quadros técnicos do centro, dotando-o de mais e melhores meios logísticos e materiais.

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