Macron quer combater "a lepra democrática" instalada em França

O candidato independente à presidência atacou o rival à direita, Fillon. Recorreu a de Gaulle, Chirac e Giscard d’Estaing para agregar apoios e chegar à segunda volta, onde Le Pen já está à espera.

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Recepção apoteótica para Emmanuel Macron em Lyon Reuters

Dois candidatos à presidência francesa escolheram a cidade de Lyon para marcarem, este sábado, o arranque oficial das suas campanhas — o independente Emmanuel Macron e Marine Le Pen, a primeira figura da extrema-direita. Macron, diz a imprensa francesa, triunfou.

Macron juntou 12 mil pessoas no seu comício, diz o Le Point — sete mil que entraram no pavilhão desportivo, quatro mil que tiveram que ficar à porta. O Le Monde descreve o ambiente: "Jactos de fumo, bandeiras tricolores e europeias, música pop". Milhares de pessoas, muitas com T-shirts a dizer ‘Emmanuel Presidente’, juntaram-se no Palácio dos Desportos de Gerland para aclamarem o candidato do movimento Em Marcha.

Ouviram o discurso de hora e meia em que o candidato defendeu os valores da "liberdade, igualdade, fraternidade". "Hoje, não se trata de fazermos uma manifestação de força, porque a força não serve para grande coisa. É uma demonstração de vontade".

A campanha de Macron ganhou um alento redobrado com o escândalo que enfraqueceu (ou comprometeu) o candidato da direita, François Fillon, a braços com uma investigação ao emprego que deu à mulher, Penelope Fillon, e que se suspeita ter sido fictício (ganhou 900 mil euros do erário público). O candidato independente de 39 anos, antigo ministro da Economia de François Hollande, luta por um lugar na segunda volta das presidenciais, que se travam a 7 de Maio — passar na primeira, a 23 de Abril, é o objectivo, para se posicionar como alternativa a Le Pen, que tem passagem garantida à final, indicam todas as sondagens.

Macron referiu-se a Fillon, sem ter dito o nome do adversário. "Não podemos defender um sistema político onde os protagonistas enfraquecem diariamente a democracia", disse. "O que se instala no nosso país é uma lepra democrática. O nosso combate é por restaurar a dignidade da vida pública".

Desejoso de seduzir os eleitores que abandonam Fillon, enviou sinais ao campo conservador, relata o Monde: homenageou o general Charles de Gaulle (um homem para os grandes momentos da História, como este), Jacques Chirac e Valery Giscard d’Estaing."Utilizou a mesma técnica que usara em 14 de Janeiro em Lille, em terras da esquerda" — ali citou François Mitterrand e os seus discursos sobre a Europa.

Com o pavilhão a gritar "Vamos ganhar", Macron não deixou passar a questão Donald Trump, oferecendo-se para receber em França, se for Presidente, os cientistas que os EUA não receberem devido às leis sobre imigração que bloqueiam muçulmanos, ou que não queiram permanecer ali por causa delas.

"Quero que todos os que abraçam a inovação e a excelência nos Estados Unidos ouçam o que digo: a partir de agora, a partir de Maio, têm aqui uma pátria, a França".

Não longe dali, Le Pen apresentou, no comício de dois dias da Frente Nacional (sábado e domingo), o seu manifesto de "144 compromissos presidenciais". Foram desenhados para construir uma França "livre", "segura", "próspera", "poderosa" e "durável" — sair do euro e da União Europeia são as bases do programa da candidata da extrema-direita. A candidata frentista quer "devolver a liberdade à França e a palavra ao povo" e promete que a sua prioridade é trabalhar em nome da "França dos esquecidos".

Perante o "Penelopegate", próximos de Le Pen disseram ao Le Point que já se perspectiva um duelo Le Pen/Macron. O objectivo, disseram as fontes, é "fazer um debate extremamente claro entre duas visões da sociedade", provocando uma "possível fractura" à direita que beneficie Le Pen.

Porém, um próximo de Le Pen admitiu: "No papel, Macron tem mais hipóteses" de vencer a presidência.

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