Casa Branca ameaça diplomatas que se opõem a Trump: "Ou alinham com o programa ou vão-se embora"

Porta-voz da Casa Branca diz que se os diplomatas não concordam com a política de imigração de Trump terá de se colocar em questão "se devem ou não continuar no posto".

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Reuters/KEVIN LAMARQUE

Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca, afirmou esta segunda-feira que os diplomatas que se opõem ao decreto assinado por Donald Trump restringindo a imigração e a entrada de refugiados de sete países de maioria muçulmana devem alinhar-se com a estratégia presidencial ou “vão-se embora”.

Em causa está uma ferramenta do Departamento de Estado americano chamado “canal de dissidência” e que foi subscrito por dezenas de diplomatas criticando a decisão de Trump. Sobre este documento, Sean Spicer diz que os subscritores ou “alinham com o programa ou vão-se embora”, cita a CNN.

“O Presidente tem uma visão muito clara. Ele foi claro sobre isto desde a campanha. Ele tem sido claro desde que tomou posse, que ele vai colocar a segurança do seu país em primeiro lugar”, afirmou o porta-voz numa conferência de imprensa na Casa Branca. “E se alguém tem um problema com esta agenda então isso coloca em questão se deve ou não continuar no posto”, concluiu.

O “canal de dissidência” foi formado nos anos 1960 aquando da guerra do Vietname para que os funcionários do Departamento de Estado norte-americano pudessem informar os seus superiores das suas opiniões sem receio de sofrerem represálias. No caso concreto do conflito em território vietnamita, serviu como mecanismo para que a liderança do departamento pudesse receber sugestões de políticas e estratégias alternativas em relação à guerra. No ano passado, recorda a CNN, mais de 50 diplomatas utilizaram o canal para reflectirem a sua oposição relativamente à inacção dos EUA na Síria.

O mesmo canal teve agora acesso ao esboço do documento preparado para ser enviado ao Departamento de Estado através do “canal de dissidência”. Aí defende-se que a nova política de imigração pensada por Donald Trump não só não tornam os EUA seguros, como vai prejudicar os esforços realizados para prevenir ataques terroristas no país, contrariando assim o argumento principal da nova administração para avançar com a medida de impedir a entrada de imigrantes de sete dos países muçulmanos e a suspensão temporária da admissão de refugiados.

“Dada a quase ausência de ataques terroristas cometidos nos últimos anos por cidadãos sírios, iraquianos, iranianos, líbios, somalis, sudaneses e iemenitas que estão nos EUA depois de obterem um visto, esta proibição terá pouco efeito prático na melhoria da segurança pública”, lê-se no memorando. Entre outros argumentos, os diplomatas dizem que a decisão da nova administração recorda “alguns dos piores momentos da nossa história”, tal como a detenção dos americano-japoneses durante a II Guerra Mundial.

Visto que o secretário de Estado nomeado por Trump, Rex Tillerson ainda não iniciou funções, esperando pela aprovação do Senado, coube ao porta-voz do Departamento de Estado ainda em funções reagir às críticas internas. Mark Toner confirmou ter conhecimento do documento destinado ao “canal de dissidência”.

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