Silicon Valley junta-se em críticas a Trump

Líderes de algumas das maiores empresas tecnológicas condenaram abertamente as restrições à entrada de cidadãos de sete países.

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O co-fundador do Google Sergey Brin, de origem russa, juntou-se a manifestantes numa aeroporto Reuters/ROBERT GALBRAITH

Num mês e meio, Silicon Valley passou da postura cordata de uma reunião com muitos sorrisos amarelos para a crítica aberta ao Presidente americano. A ordem executiva dada por Donald Trump na sexta-feira, que impede temporariamente cidadãos de sete países de entrarem nos EUA, parece ter sido a gota de água para os líderes das empresas tecnológicas, que têm a filosofia de fazer negócios em todo o mundo, recrutam em grande volume talento estrangeiro e cujos fundadores ou presidentes são, em muitos casos, imigrantes ou descendentes de imigrantes.

No sábado, o co-fundador do Google Sergey Brin juntou-se a manifestantes no Aeroporto de São Francisco, uma cidade conhecida pelos costumes liberais e pela diversidade cultural. Brin, que tirou fotografias com outros manifestantes que rapidamente se espalharam pelas redes sociais, recordou a sua própria história de vida. “Estou aqui porque sou um refugiado”, afirmou, em declarações à revista Forbes. Aquele que é hoje uma das pessoas mais ricas dos EUA nasceu em Moscovo e emigrou para os EUA com os pais, quando tinha seis anos.

Sergey Brin está longe de ser caso único. Sundar Pichai, o actual presidente executivo do Google, é indiano, tal como Satya Nadella, o presidente da Microsoft. E um dos maiores ícones da indústria tecnológica americana, Steve Jobs, era filho de um pai sírio, embora tenha crescido com uma família adoptiva americana (ao contrário da Síria, a Índia, de onde partem imensos estudantes que acabam nos quadros das empresas tecnológicas dos EUA, não está na lista de países temporariamente banidos).

Na Internet sucederam-se nos últimos dias os comentários críticos. O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, lembrou que tem ascendência alemã, austríaca e polaca e que a mulher é filha de refugiados da China e do Vietname. “Os Estados Unidos são uma nação de imigrantes e devíamos ter orgulho nisso”, escreveu.

Já o fundador do Netflix, Reed Hastings, argumentou no Facebook que as acções da nova administração iam tornar a América menos segura, “pelo ódio e perda de aliados” que motivavam. “[Foi] uma semana muito triste, e mais virão, com as vidas de mais de 600 mil Sonhadores [sic] aqui na América sob ameaça iminente. É altura de unir esforços e proteger os valores americanos de liberdade e oportunidade”, observou Hastings.

O Airbnb, por seu lado, está a oferecer alojamento gratuito a pessoas que estejam a ser impedidas de regressar aos EUA. No Twitter, o presidente da empresa, Bian Chesky, disse estar disponível para ser contactado e responder a casos urgentes. E a Microsoft está a colaborar com o ministério público em Washington, que avançou com um processo contra Trump, alegando que a medida é inconstitucional.

A reacção de Silicon Valley parece ter sido mais motivada pela cultura e princípios da meca tecnológica mundial — bem como pela pressão crescente dos trabalhadores — do que por questões práticas: não é significativo o número de funcionários no sector oriundos dos sete países banidos. O Google, que optou por chamar para os EUA os funcionários que estavam no estrangeiro e poderiam ser barrados nos aeroportos, disse ter menos de 200 trabalhadores afectados: uma fatia muito pequena dos 60 mil que a multinacional tem em todo o mundo.

Não foram apenas as empresas tecnológicas a mostrar repúdio e preocupação. O presidente executivo do banco Goldman Sachs, por exemplo, enviou, segundo a Reuters, uma mensagem aos funcionários na qual afirma discordar da medida e onde nota que, se a proibição passar a ser permanente, poderá criar “disrupção” para aquela instituição. Também a Ford, uma das mais emblemáticas empresas dos EUA, teve uma posição semelhante, num comunicado conjunto dos dois executivos de topo: “Não apoiamos esta política nem qualquer outra que vá contra os nossos valores como empresa.”

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