"Durão Barroso é um activo em qualquer instituição"

António Esteves foi um dos grandes responsáveis da ida do anterior presidente da Comissão Europeia para a Goldman Sachs.

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"Durão Barroso tinha uma lista infindável de convites", diz António Esteves rcl Ricardo Castelo\Nfactos

O novo secretário de Estado do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, veio da Goldman Sachs, tal como o responsáveld o Conselho Económico Nacional, Gary Cohn, apenas para dar dois exemplos. A Goldman Sachs aparece sempre perto do poder...isso é uma coincidência ou há aqui uma espécie de “poder sombra”?
A Goldman é um dos principais bancos de investimento. Ou seja, atrai, por natureza, os melhores cérebros do mundo. Se fizer uma análise, verificará que também há pessoas ligadas à Mckinsey ou à Boston Consulting Group em instituições influentes. Isto porque são entidades que atraem normalmente o talento. Eu conheço as pessoas que estão agora na administração Trump e você senta-se à mesa com elas e fica impressionadíssimo pelo seu calibre. São pessoas muitíssimo bem preparadas. Se calhar há quem sinta mais cómodo  em ter o nome Goldman ou uma pessoa que esteve na Goldman ao seu lado, sentem-se mais protegidas ou que é um selo de qualidade...

O próprio nome é um activo?
Acho que sim.

E como é que viu a ida do "especialista em banca" Durão Barroso para a Goldman Sachs? Porque é que foi convidado?
Eu fui um dos grandes promotores de Durão Barroso ter ido para a Goldman Sachs. E acho que nós, como portugueses, devemos estar orgulhosos do papel que [Barroso] teve na Comissão Europeia, [Barroso] tem imensas qualidades. Porque é que ele vai para a Goldman Sachs? Não vou dizer que se eu não estivesse na Goldman Sachs ele não iria para lá, mas o doutor Durão Barroso tinha uma lista infindável de convites. É um activo em qualquer instituição.

Com base em quê?
No seu conhecimento, na sua experiência...

... e nos seus contactos?
Não. Os contactos hoje valem muito e são muito importantes, mas daqui a cinco anos, serão outros... [a Goldman Sachs] não querem os contactos, querem a pessoa. Durão Barroso esteve a falar com a Goldman Sachs durante doze meses, esteve com muitas pessoas, como Blankfein [presidente executivo]… Durão Barroso traz  muito valor acrescentado a qualquer instituição. E dou-lhe os parabéns. Está num óptimo lugar, assim o merece, e vai desempenhar um óptimo papel.

A 22 de Julho de 2014, a Goldman Sachs anunciou que tinha comprado 2,25% do BES e a cotação disparou 14%. A 1 de Agosto (o BES colapsou a 3 de Agosto), a Goldman Sachs informou que já não detinha posição qualificada e que afinal as acções não eram suas, mas de um cliente, e a cotação voltou a derrapar. Tem justificação para esta sucessão de eventos?
Foi um erro. Quando um cliente dá uma ordem de compra de acções à Goldman Sachs, e estas ficam depositadas no banco, é necessário preencher documentação e informar, neste caso a CMVM, que se tem uma posição em nome do cliente. Na altura, a Goldman Sachs enviou a documentação em branco para a CMVM, e implicitamente deduziu-se, erradamente, que o detentor das acções era a Goldman Sachs. Mas nunca foi.  A explicação é esta e é muito simples.

Qual foi o papel de José Luís Arnault na operação de financiamento ao BES, de quase 900 milhões, e que a Goldman Sachs colocou em investidores através da Oak Finance?
Nenhuma.  

E qual a comissão cobrada pela Goldman Sachs?
Nenhuma, tratou-se de um financiamento normal.

Noutra ocasião disse que a Goldman Sachs era muito vigilante em relação à performance dos seus quadros. Pergunto-lhe se esta operação, que agora está no “BES mau”, e se revelou ruinosa, levou à sua saída, em 2016, da Goldman Sachs?
Não. Zero. Quando estava na Goldman Sachs, e era partner, tinha a responsabilidade de 70 países. Portugal era um deles, e representava menos de 1% das receitas totais. E qualquer operação que se faça em qualquer jurisdição é aprovada em comités onde chega a estar o presidente.

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