Líderes europeus contra fecho de fronteiras nos EUA

A chanceler Angela Merkel foi uma das chefes de Governo que lembraram a Trump o dever de protecção dos refugiados, previsto nos tratados de direito humanitário internacional.

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Reacções internacionais juntaram-se aos protestoa nacionais JOE PENNEY/Reuters

O telefone e o twitter foram os meios utilizados por governantes de diversos países para transmitirem a Donald Trump o que pensam sobre uma das medidas mais polémicas do Presidente em exercício há apenas uma semana: a de suspender por 120 dias a entrada de todos os refugiados e de proibir, pelo menos por três meses, a entrada de cidadãos de sete países muçulmanos entre os quais o Iraque e a Síria. Durante esse período de suspensão, são esperadas mudanças às leis vigentes.

Pelo telefone, a chanceler alemã Angela Merkel manifestou a sua preocupação e lembrou Donald Trump de que as convenções de Genebra impõem o dever de acolher refugiados, por razões humanitárias. Esses tratados definem as normas para as leis internacionais relativas ao Direito Humanitário Internacional.

“A chanceler está convicta de que, embora necessária e decisiva, a luta contra o terrorismo não justifica colocar sob suspeita pessoas de determinadas origens”, referiu o porta-voz de Merkel sobre a conversa que a chanceler teve com Trump, e que a Reuters interpreta como sendo o primeiro desentendimento entre os dois líderes.

O Governo alemão já disse que ia analisar as consequências do decreto presidencial de Donald Trump nos casos de cidadãos com dupla nacionalidade e prometeu “representar os seus interesses” em relação aos parceiros norte-americanos. 

Na sua conversa com Trump, Merkel sublinhou ainda que o combate global ao terrorismo não podia servir de justificação para proibir a entrada de refugiados e disse que o Governo. Aproveitou para convidar o Presidente dos Estados Unidos para uma reunião do Grupo dos 20 países mais industrializados do mundo, que se realiza em Julho em Hamburgo. Trump aproveitou para convidar Merkel a visitar Washington.

“Aceitar refugiados é um dever de solidariedade”, disse, por sua vez, no Twitter o ministro dos Negócios Estrangeiros francês Jean-Marc Ayrault. “O terrorismo não tem uma nacionalidade. Discriminar não é resposta.” E acrescentou: “Ter em conta a tragédia dos refugiados é um dever. O medo do terrorismo não é uma razão legítima para lhes recusar protecção.”

O Presidente François Hollande pedira pelo telefone a Donald Trump para respeitar os refugiados, no sábado, no mesmo dia em que o Kremlin e a Casa Branca disseram que o primeiro contacto telefónico entre o presidente russo Vladimir Putin e Donald Trump tinha sido “muito positivo”.  

No fim da sua primeira semana na Casa Branca, Donald Trump também falou ao telefone com os primeiros-ministros do Japão, Shinzo Abe, e da Austrália, Malcolm Turnbull, de acordo com a agência Reuters.

Também num tweet em francês e em inglês, o primeiro-ministro do Canadá Justin Trudeau deu as boas-vindas a todos os que precisavam de refúgio e ofereceu-se para acolher 300 mil refugiados no país: “Aos que fogem à perseguição, ao terror e à guerra, os canadianos dão-vos as boas-vindas, independentemente da vossa religião. A diversidade é a nossa força”, acrescentou um dia depois de Trump anunciar a medida.

OThe Guardian realça, em contraste, o silêncio da primeira-ministra britânica Theresa May e conta o caso de uma mulher da comunidade yazidi (que sobreviveu a um massacre em 2014) impedida ontem de embarcar num voo a partir de Bagdad, meses depois de ter estado à espera de um visto para se juntar ao marido que já está nos Estados Unidos.

A primeira-ministra “recusou assumir uma posição" contra a medida de Donald Trump, segundo o jornal britânico. Depois de aterrar em Londres, vinda de uma visita à Turquia e a Washington, tendo sido a primeira líder mundial a visitar o Presidente Trump, um porta-voz de Downing Street apenas repetiu o que antes dissera May sobre Trump: “Haverá sempre coisas em que estaremos de acordo e outras em que estaremos em desacordo.”  

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