Afonso Pais e Rita Maria, uma união além das horas e no jazz

Um concerto a guitarra e voz, por dois conceituados músicos do jazz português. No Pequeno Auditório da Culturgest, em Lisboa, esta sexta-feira às 21h30.

Fotogaleria
Rita Maria e Afonso Pais em ensaio, antes do concerto na Culturgest ENRIC VIVES-RUBIO
Fotogaleria
Rita Maria e Afonso Pais em ensaio, antes do concerto na Culturgest ENRIC VIVES-RUBIO

Na mesma noite em que Aldina Duarte regressa à Culturgest, o Pequeno Auditório recebe um outro concerto digno de atenção, integrado no ciclo “Jazz +351”: o guitarrista Afonso Pais e a cantora Rita Maria apresentam o disco Além das Horas, editado em Novembro de 2016 pela Enja. Mas se no disco contavam com a participação de outros músicos (Albert Sanz, piano; António Quintino, contrabaixo; Luís Candeias, bateria; e ainda Peter Bernstein na guitarra e Bernardo Couto na guitarra portuguesa), aqui estarão apenas em duo, guitarra e voz. “Este é um trabalho conjunto, na medida em que o disco foi feito para depurar aquilo que nós já conhecíamos um do outro”, diz Afonso Pais. Ele e Rita Maria já colaboram há pouco mais de uma dúzia de anos e em 2013 até fizeram um disco em parceria, Míope e o Arco-Íris (com “leituras de standards um bocadinho desfocadas”, daí o título), mas foi disponibilizado apenas nas plataformas digitais.

Além das Horas acabou, assim, por ser o seu primeiro disco físico feito em parceria. “Promove as nossas cumplicidades, vai a vários dos sítios que já conhecíamos e experimenta outros”, diz Afonso Pais. Num total de nove temas, há instrumentais mas também vocalizos e letras em português, com assinaturas de Pedro Esteves, Thiago Amud ou JP Simões, isto além de uma versão instrumental de 7 minutos de um tema de Tom Jobim, Demais. No disco as letras não são transcritas, mas isso não significa menosprezo pela palavra, diz Rita Maria. “Há uma importância grande na poética que decidimos utilizar. E damos muita importância às letras. Por isso quando se escolhe introduzir letra, a letra é obviamente muito premeditada.” Afonso Pais completa o raciocínio: “Não é só a música ao serviço das palavras nem as palavras ao serviço da música, é uma viagem comum por um imaginário que cada um verá mais num estilo ou noutro.”

Afinidades e descobertas

“Antes de gravar o disco, estreámos o projecto ao vivo do Hot Clube, durante três noites. E antes já tínhamos apresentado parte substancial do repertório do disco num concerto em Marrocos, em 2014”, diz Rita Maria. “Foi um período de transição, em que o disco já tinha sido concebido mas não tinha sido ainda gravado”, acrescenta Afonso. “Cada tema propõe-se ter um universo musical e estilístico diferente dos outros, por isso para cada um tentámos que houvesse instrumentações diferentes. Há temas que não têm improviso, outros que só têm improviso…” Isso no disco.

Na Culturgest (esta sexta-feira, às 21h30), estando apenas os dois, vão repegar “nas músicas que melhor se adequam ao duo”: “Temos encontros semanais para rodar os temas, vamos procurar trazer esse ambiente mais intimista dessas reuniões para palco, vamos escolher temas anteriores a estes e um ou outro entretanto composto, mas sempre dentro desta temática [a do novo disco].”

Afonso Pais, que teve Edu Lobo como convidado no seu disco Subsequências (2008) e que aqui retoma a conexão brasileira através de Jobim, diz que a sua ligação aos sons do Brasil é antiga. “Antes de ter começado a tocar e a aprender jazz, já os meus pais ouviam música brasileira.” Rita Maria, que o conheceu na Escola de Jazz do Barreiro, onde ele era professor, incluiu também a música brasileira nas afinidades que partilham: “Temos esse imaginário em comum, temos o do jazz, e vamo-nos influenciando um ao outro com as nossas descobertas.” Afonso Pais assinala o “entendimento pessoal e de procedimento” entre ambos. “Não precisamos de conversar muito para pegarmos numa música e propormos uma determinada leitura.” Ouçam-nos e verão.

Sugerir correcção
Comentar