Uma carta de amor de David (Fonseca) para David (Bowie)

António Zambujo, Ana Moura, Camané, Manuela Azevedo, Márcia, Aurea ou Tiago Bettencourt a cantar David Bowie? Bowie 70, um disco-tributo posto de pé por David Fonseca.

Fotogaleria
David Fonseca refere-se a Bowie 70 como “uma espécie de carta de amor de um fã” Filipe Ferreira
Fotogaleria

António Zambujo, Ana Moura, Camané, Manuela Azevedo, Márcia, Aurea ou Tiago Bettencourt a cantar David Bowie? Sem terem sido apanhados num momento privado, filmados à socapa por um telemóvel não autorizado? Nem cedendo à tentação de fazer uma emocionada homenagem em palco, preparada de véspera, com um arranjo quase sem tempo para nascer (quanto mais para crescer)? Bowie 70, disco-tributo posto de pé por David Fonseca, juntando ao seu redor estas e outras tantas vozes – um casting quiçá menos surpreendente quando chega a Afonso Rodrigues (Sean Riley), Catarina Salinas (Best Youth), Rita Redshoes, Marta Ren, Rui Reininho e o próprio David – chega a 17 de Fevereiro às lojas e é coisa para agitar a imagem que temos de cada um destes intérpretes e de cada uma dos clássicos a que aqui se dedicam.

David Fonseca, homem que já víramos enfiar-se com notável esmero noutras peles – por exemplo a de Elton John, ao gravar Rocket man para o álbum Dreams in Colour (2007) –, refere-se a Bowie 70 como “uma espécie de uma carta de amor de um fã”, sendo o 70 uma alusão directa ao ano em que o camaleão da pop completaria 70 anos. Depois de Rocket man, portanto, e continuando na senda de homens atirados para o espaço, Starman, em modo soul-funk (mais versão nova-iorquina do que com carimbo de Memphis ou Filadélfia) e entregue a Aurea.

Passear os ouvidos por Bowie 70 é uma permanente surpresa. Arranca com um Absolute beginners em que Tiago Bettencourt parece plantado na folk inglesa dos anos 70 e passa por um Life on Mars em que se diria Zambujo ter mudado o seu centro de gravidade para um universo de excentricidade pop que, com alguma boa vontade, se poderia imaginar chegado dos Flaming Lips; coloca Camané a dar gravidade ao “ground control to Major Tom” de Space oddity e atira o fadista, assim como Ana Moura em The man who sold the world, para arranjos que se diriam sintonizados com os últimos anos dos Beatles, mas também permite a Márcia vogar por um This is not America com fibra trip-hop.

Isto e muito mais, numa carta de amor daquelas que resistem à passagem do tempo.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários