“Para o BE há duas áreas essenciais: as Finanças e o Trabalho”

Admitindo que Mariana Mortágua venha a ser ministras das Finanças, Catarina Martins almeja a pasta do Trabalho. Mas assume que é “candidata a primeira-ministra”.

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“Para o BE há duas áreas essenciais: as Finanças e o Trabalho” São José Almeida, Sibila Lind, Frederico Batista, David Dinis

“O Bloco de Esquerda tem como objectivo ser governo”, garante Catarina Martins, explicando que os actuais 10% não darão ao BE “capacidade de influência correspondente” ao seu programa. Quanto à meta de 20% estabelecida por Francisco Louçã, diz que a questão não é “aritmética”, mas que uma entrada do Bloco de Esquerda num executivo depende das políticas.

Quanto é que o BE teria hoje, se fosse a eleições?

Eu não faço apostas.

Mas olha para as sondagens?

As sondagens mostram sobretudo que a direita tem caído e o Partido Socialista tem subido com a queda da direita — e que à sua esquerda se mantém tudo mais ou menos na mesma. Mas, sabe, eu sou a pior pessoa a quem fazer esta pergunta, porque eu comecei uma pré-campanha eleitoral com sondagens a dizer que o BE ia morrer e que tinha entre 2,5% e 3% e, depois, tivemos o melhor resultado de sempre em legislativas, mais de 10%. Eu não sou propriamente movida por sondagens.

O Bloco de Esquerda está apostado em crescer eleitoralmente. Numa entrevista recente, Francisco Louçã afirmou que o objectivo do BE era atingir a casa dos 20% e que, com esse resultado, poderia então ter condições para participar num governo. Concorda?

O Bloco de Esquerda tem como objectivo ser governo, participar no governo, ou seja, nós queremos que o nosso programa possa ser concretizado. E isso só pode acontecer quando o BE tiver a força suficiente em eleições para poder condicionar um governo, estando no governo. Agora o BE só tem 10% — estar no Governo não nos daria capacidade de influência correspondente ao nosso programa. Isso objectivamente depende do todo da relação de forças. Nós temos um problema grave, neste momento, na Assembleia da República: temos 80% dos votos dos deputados em partidos que fazem parte de um consenso europeu, sobre matérias como o Tratado Orçamental ou a união bancária. Para que seja possível uma alteração no que diz respeito às grandes opções do país, aos seus recursos, à forma como usamos a nossa riqueza, à forma até como combatemos a desigualdade, é preciso rejeitar os partidos do Tratado Orçamental. Como é preciso não achar que o Banco Central Europeu mandar em tudo é a melhor coisa. Para isso é preciso ter mais força.

Concorda com aquele patamar dos 20% que estabeleceu Francisco Louçã? Ou admite que o Bloco de Esquerda possa, numa futura legislatura, mesmo abaixo dos 20%, vir a participar num governo com o Partido Socialista?

A relação de forças não é determinada pelo valor, pelo peso de um partido. É determinada pelos pesos relativos dos vários partidos. É por isso que para mim não tem muito sentido estar a falar de uma percentagem no vazio.

Participaria num governo com o PS, se o PS tivesse 25% e o BE 17% e sem o PCP, por exemplo?
Do ponto de vista político haveria consenso para matérias como a reestruturação da dívida? Conseguiríamos nós convergência para matérias como a legislação laboral? Tudo depende...

Seria sempre uma questão de conteúdos?

É sempre uma questão de conteúdos. A posição conjunta que o Bloco de Esquerda fez com o PS não é uma posição conjunta aritmética. É verdade que o facto de a esquerda ter crescido nas eleições permitiu esta solução. Mas é também porque conseguimos fazer um acordo com conteúdos políticos que para nós são relevantes.

Portanto esta questão dos 20% colocada por Francisco Louçã não é assim tão relevante como isso?

É uma das formas de olhar para o problema. Há várias.

Concorda também com Francisco Louçã quando ele diz que Mariana Mortágua um dia vai ser ministra das Finanças?

Eu não sou boa a fazer profecias, mas sei que a Mariana Mortágua é muito boa naquilo que faz e, com certeza, será muito importante para o nosso país.

E a Catarina Martins? Que pasta gostava de ocupar?
Nunca fui movida por desejos de ocupar pastas.

Mas numa eventualidade futura, quais as áreas que mais lhe interessam?

As áreas têm que ver com o que se faz com elas. Objectivamente para o BE há duas áreas que são essenciais, são as Finanças e o Trabalho.

Portanto, sendo Mariana Mortágua ministra das Finanças, admitiria ser ministra do Trabalho.

Entretanto, sou candidata a primeira-ministra. Mas estamos a fazer futurologia, tudo depende da política.

Quando encerrou a convenção do Bloco, fez a defesa de um referendo à zona euro. Fê-lo em termos de uma negociação que estava em curso com a Comissão Europeia sobre as sanções. Não foi uma tirada num momento certo para conseguir aquele efeito, ou acha que o referendo ao euro ainda voltará a ser apresentado?

Naquela altura falava-se do problema do processo de sanções contra Portugal e o que estava em causa era que Portugal fosse sancionado por causa do falhanço das metas do anterior Governo, o que significava que era uma censura da União Europeia contra a solução do Governo actual. Ou seja, era dizer-nos que tudo o que nós decidíssemos não valia nada. Alterada a relação de forças no Parlamento, as pessoas terem votado para ter outra política não valeria nada. E no momento em que Portugal foi confrontado, julgo que a posição forte em Portugal contra o processo de sanções foi importante para que ele [processo de sanções] tivesse sido abandonado.
Se Portugal é confrontado com o facto de não ser possível nenhuma política não ditada directamente pela Comissão Europeia, vale a pena continuarmos a ter eleições, se não perguntarmos às pessoas o que é que pensam sobre isso?

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