"Temos de conservar a troca de criatividade e experiências culturais"

Foi responsável pelos célebres festivais de música clássica BBC Proms entre 1996 e 2007 e é o actual director do Barbican Centre. Segundo Nicholas Kenyon, o "Brexit" pode pôr em risco a diversidade nas programações culturais do Reino Unido.

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Nicholas Kenyon NELSON GARRIDO

Disse no debate que se por causa do Brexit a circulação de artistas para dentro e para fora do Reino Unido ficar tão difícil quanto a mobilidade para países como o Japão e os Estados Unidos, haverá consequências políticas. Quais?
Nós fazemos muito trabalho com o Japão, com a Austrália, com os Estados Unidos. As orquestras vão do Reino Unido para esses países, mas é difícil e é muito caro por causa dos processos pelos quais têm de passar, os vistos, entrevistas, e por-aí-fora. Se isso começar a acontecer na Europa pode ficar mais difícil para as orquestras, por exemplo, viajar pelo continente e trocar ideias ou linguagens culturais europeias. Temos de tentar negociar para que isso não aconteça.

Essas questões podem conduzir também a uma programação cultural menos plural e diversa nas instituições britânicas.
Absolutamente. Seria um grande problema termos uma programação menos diversa e menos rica. Já estivemos a pensar no tipo de coordenadas administrativas que precisaríamos de aplicar no Barbican. Provavelmente vamos precisar de um departamento que arranje vistos às pessoas. Mesmo com estes problemas políticos temos de arranjar forma de conservar a troca de criatividade e experiências culturais que existe na Europa. Mas nós somos artistas, somos bastantes espertos e arranjaremos maneira de dar a volta (risos).

Como é que grandes instituições como o Barbican podem fazer pressão junto do governo britânico?
Directamente não podem. Temos de negociar através do British Council, através da Federação das Indústrias Criativas, que é uma voz muito poderosa, o Arts Council, outra estrutura muito forte… Todas estas organizações têm de trabalhar em conjunto para estabelecer quais são os pontos de negociação de que precisamos. Já pensámos nesses tópicos – há alguns relatórios nesse sentido da Federação das Indústrias Criativas, por exemplo, que podem ser encontrados na net. Um dos exemplos é a toda a questão das qualificações de que um artista ou uma pessoa precisa para ir trabalhar para o Reino Unido. Eles falam de pessoas “altamente habilitadas” como sendo aceitáveis, mas por vezes também dizem “altamente habilitadas e altamente bem pagas”, e os artistas não entram necessariamente nessa categoria. Isso é o tipo de coisas que têm de ser negociadas. Se vai haver um nível mínimo de ordenado, o que acontece se precisarmos rapidamente de um artista… De momento é mais fácil ir buscá-lo a um país europeu porque ele pode vir imediatamente, mas se isso deixar de ser o caso vai tornar-se num processo muito mais complicado no que toca aos músicos freelance

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