Tabaco aquecido: Mega Ferreira converteu-se, Ana usa mas alterna com cigarros

“Falta ali qualquer coisa”, lamenta Ana, que usa o iQOS, mas continua a fumar cigarros clássicos

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Médico recomendeu tabaco aquecido a Mega Ferreira RUI GAUDÊNCIO

Ainda não existe um verbo para definir o acto de usar o iQOS ou outro tipo de tabaco aquecido. Os fumadores de cigarros fumam. Os utilizadores de cigarros electrónicos vapeiam. Mas o escritor António Mega Ferreira, que se converteu ao tabaco aquecido no Verão passado, já encontrou uma palavra para descrever o acto. “Isto é chupar. Até digo, a brincar, que cheguei a esta idade para andar a chupar paus de aquecer”, ironiza Mega Ferreira, cuja conversão ao tabaco aquecido resultou da recomendação do seu cardiologista: “Ele disse-me: você tem que deixar de fumar. Por que não experimenta isto?”.

Com quatro bypasses, um deles entupido, e uma dor persistente no peito, o escritor percebeu que não tinha outra saída. Estavmos em Julho de 2016 e Mega Ferreira, que só fizera um interregno de três ou quatro meses no seu longo vício de fumar (começou aos 14 anos), adquiriu a máquina (que custa 70 euros) e rendeu-se-lhe completamente: “No mesmo dia, comprei um maço que ainda tenho em casa. Nunca mais fumei um cigarro nem sinto falta. Estou tão satisfeito que até faço apostolado. Já converti duas ou três pessoas”. 

Continua a ser "uma droga"

Sem nunca ter experimentado cigarros electrónicos - “misturam uns líquidos, cheiram a caramelo, acho uma mariquice“ -, Mega Ferreira tem consciência de que este novo produto continua a ser "uma droga". "Só que é uma droga sem fumo, sem monóxido de carbono, sem alcatrão”, resume. E é, na sua opinião, o que há mais próximo dos cigarros, "na ergonomia, na relação da boquilha com o gesto de fumar, no packaging". É, resume, "uma espécie de iPhone". "Até costumo pôr os dois lado a lado", diz o escritor que está, no entanto, convencido de que o aparelho ainda pode ser muito aperfeiçoado.

Uma das primeiras pessoas a experimentar o iQOS em Portugal, Ana Silva Pires, autora do blogue Entre fraldas e livros, mal começou a ouvir falar do novo produto –  “as vendas eram só por convite” na altura -,  encomendou-o.  Uma semana depois, já notava a diferença. “Deixei de cheirar a tabaco”  e “posso fumar em qualquer lugar”, descrevia, então, no seu blogue.

Depois de ter experimentado o cigarro electrónico “com líquidos à medida”, sem conseguir apreciar a experiência, declarava-se rendida ao tabaco aquecido. Trata-se de um produto, reflectia, para “fumadores que gostam de gadgets” e que, apesar de fumar, não querem cheirar a tabaco". A primeira loja abriu no Chiado, em Lisboa, era uma espécie de clube a que apenas se acedia por convite.

Aos 32 anos e fumadora há 15 anos, Ana, que trabalha no consultório do pai, médico, até conseguiu entretanto convencê-lo também a passar a usar o iQOS, mas ele “continua a utilizar cigarros electrónicos” em simultâneo. Alterna entre os dois, tal como Ana que, depois de uma primeira fase dedicação exclusiva ao aparelho, não conseguiu abandonar os cigarros normais, que continua a fumar, sobretudo quando vai sair à noite ou jantar com alguém.

Porquê? Porque ao mesmo tempo que reconhece as vantagens do novo produto -  “não faz fumo, não tem cinza, pode-se fumar em espaços fechados, já não fico com os pulmões na boca, e ninguém nos crava na rua” – Ana não consegue deixar de notar que “falta ali qualquer coisa”. “Falta o gesto de apagar o cigarro”, lamenta.

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