Migrantes, a necessidade de sensatez

A Europa não pode tremer perante o convívio com o Islão. Devemos encontrar formas simbióticas de harmonizar as populações locais e as comunidades imigrantes, mas sem fingirmos ignorar que existem problemas graves.

A recente vaga de migrantes, refugiados e ataques terroristas não deve toldar-nos a lucidez e a razoabilidade. As (várias) demagogias são prejudiciais na avaliação desta matéria que não é simples nem linear.

Apenas 8% dos migrantes no mundo são refugiados. A vasta maioria dos migrantes decide sê-lo por motivos económicos e pela procura de uma melhor qualidade de vida e de mais oportunidades. É compreensível e humano, para quem teve o azar de nascer num local errado do planeta.

Contrariamente à perceção de que as migrações são um fenómeno recente, desde há um século as migrações internacionais têm representado, em percentagem da população mundial, aproximadamente o mesmo que na atualidade – entre 2,5% e 3,5% da população global. Mas, pelo facto de a população mundial ter entretanto crescido fortemente, uma mesma percentagem de representa agora um maior valor absoluto. Em 1965 existiam 75 milhões de migrantes internacionais, número que agora é de 244 milhões. Os Estados Unidos são o país que recebe mais migrantes.

A carinhosa hospitalidade dedicada aos imigrantes é essencial, por solidariedade humana. Nos países recetores eles tendem a introduzir complementaridades no mercado do trabalho, quer nos segmentos menos qualificados quer também, mais recentemente, em domínios de elevada sofisticação. Contudo, numa Europa em crise e em explosivo desemprego dos seus cidadãos, serão xenófobos os locais que simplesmente receiam perder os empregos que alimentam as suas famílias, por vezes já com dificuldade? Uns e outros são humanamente compreensíveis. Por outro lado, nem sempre é fácil a compatibilização entre diferentes culturas, valores, hábitos e conceitos do indivíduo e da sociedade. Quase metade da população de Roterdão tem origem estrangeira e 12% da população de Londres já é muçulmana.

A Europa não pode tremer perante o convívio com o Islão. Devemos encontrar formas simbióticas de harmonizar as populações locais e as comunidades imigrantes, mas sem fingirmos ignorar que existem problemas graves.

A contribuição económica para os países recetores é, em geral, positiva. É-o também para os países de onde partem os emigrantes. As remessas de dinheiro que os emigrantes das regiões em desenvolvimento enviam para os seus países equivalem ao triplo de toda a ajuda financeira internacional a essas nações.

Contudo, aqueles que emigram a partir de países em desenvolvimento, em particular os mais qualificados, criam um vazio dramático. Há mais médicos do Mali a viver em Londres do que no Mali. No ensino superior do Ghana metade dos lugares de professores estão vagos porque estes emigraram. A perda de engenheiros é devastadora. Em contraste, dois terços dos imigrantes africanos na Alemanha têm formação universitária. Jovens brilhantes partem para estudar no estrangeiro e os Estados Unidos, com um milhão de estudantes estrangeiros, afiguram-se como o país mais desejado pelo mundo. Perdem-se cérebros. Afinal, Portugal começa, também nesta vertente, a aproximar-se dos padrões típicos dos países atrasados, disfuncionais e pobres.

Infelizmente, apesar de a vasta maioria dos migrantes constituir comunidades pacíficas, tolerantes, afáveis e respeitadoras da harmonia com os cidadãos dos países que os acolhem, as exceções são preocupantes. Um exemplo é a utilização de comunidades muçulmanas em países europeus para instalar células terroristas e incitar à violência extrema, à intolerância e ao ódio civilizacionais. A ignorância média dos políticos e da opinião pública em matérias de segurança conduz a um estado de perigosa inconsciência coletiva. Não está em causa a comunidade islâmica em geral mas apenas as minorias extremistas. Mas, mesmo ínfimas, minorias deste tipo são um enorme perigo para todos. Por exemplo, existem três milhões de muçulmanos no Reino Unido mas apenas um em cada 11 apoia as ações terroristas. Contudo, essa minoria de “apenas” um em 11 imigrantes muçulmanos equivale a 330 mil extremistas. Para realizar os devastadores atentados de Londres apenas foram necessários quatro desses radicais. Não se trata de luta contra imigrantes ou refugiados, mas de uma luta conjunta de locais e de imigrantes contra um inimigo comum – os imigrantes xenófobos, intolerantes e agressivos que pretendem agredir-nos em nossa casa em lugar de connosco conviver em paz.

Nada tem que ver com xenofobia o legítimo receio dos cidadãos europeus, após ataques de uma brutalidade bárbara a pessoas indefesas e pacatas, praticados por bandos de “refugiados” ou por extremistas terroristas, que facilmente se refugiam e diluem na imensidão do espaço europeu de circulação livre. Todos apreciam a liberdade de circulação na Europa, mas os cidadãos têm que ser protegidos.

Será xenófobo quem, na noite de passagem de ano de há um 2015, em cidades europeias como Colónia, presenciou enormes grupos de recentes “refugiados” atacarem sexualmente centenas de mulheres europeias, em plena rua, à vista da polícia (e depois escandalosamente branqueados pela imprensa), e depois exige a expulsão desses indivíduos? Ou, pelo contrário, são xenófobos aqueles migrantes e refugiados que ameaçam “o outro” (nós e a nossa civilização europeia) considerando-nos infiéis destinados a serem exterminados, exultando com os métodos sanguinários de Hitler? Quantas barbaridades terroristas sobre inocentes europeus serão necessárias para que exista a coragem de, separando o trigo do joio, explicar que são xenófobos todos os que, refugiados ou imigrantes, cá chegam defendendo e impondo princípios medievais que rejeitamos firmemente, que incitam à intolerância e à violência contra nós e contra os nossos valores tolerantes? Tolerância e submissão são conceitos distintos e não podemos ter complexos em assumi-lo. Certamente existem também muitos retrógrados xenófobos europeus que rejeitamos. Mas não se pode ter a hipocrisia de classificar como xenofobia a defesa da nossa segurança e dos nossos valores perante quem os quer destruir.

Apesar de as migrações constituírem um vibrante encontro de culturas, ideias, experiências e conhecimentos, que tende a valorizar o mundo, devemos ter a sensatez, a honestidade e a coragem de apontar riscos que se colocam, não para que eles sejam impeditivos mas para que possam ser resolvidos harmoniosamente. Ignorar as realidades ou mascará-las é, em si mesmo, um enorme perigo - um outro Populismo demagogo.

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