Sempre sem responder

Não vale a pena fazer perguntas a quem já sabe todas as respostas. Quem sabe todas as respostas ainda não começou a fazer as perguntas que precisa de fazer: está atrasado em relação a qualquer perguntador.

É um erro fazer perguntas à espera de uma resposta. A conjunção pergunta/resposta é forçada e prejudicial. Uma resposta é coisa pouca. Ser responsável é saber aceitar as perguntas que se fazem.
Uma pergunta é boa ou má, sem relação com ter ou não resposta. A melhor resposta a uma pergunta é concordar. Ou responder com outra pergunta.

Uma pergunta é uma afirmação que aceita ficar pendurada. Pendurada, perdura. As perguntas, quando recebem respostas, morrem. Ficam arrumadas.

Leva tempo a fazer uma pergunta que satisfaz, que não leve a outras perguntas. É a exigência de respostas que nos condena. Compromete-nos. Apressa-nos. Cobre-nos, no tempo, de ridículo. Querer uma resposta ainda é pior do que não ter nenhuma pergunta para fazer.

Juntar perguntas é que tem graça. Quando se diz que “a questão não é essa”, mais se ganharia em pensar-se: “Espera aí, será que a tua pergunta é diferente da minha? Será que podemos juntá-las?”
As boas perguntas são aquelas que se transmitem, de vida em vida e de geração em geração, intactas. Mesmo que precisem de muito trabalho de limpeza e de conservação. É esse um dos trabalhos nobres da filosofia.

O tempo é um intruso que tenta despachar-nos. Procura instalar o pânico da morte, a ver se matamos o que perguntamos com meras respostas — dadas, em vez de pensarmos.

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