Os cinco insucessos de Obama

Impasses na imigração e no controlo das armas são os grandes insucessos a nível interno.

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O controlo da venda e porte de armas era uma das prioridades de Obama EPA/SHAWN THEW

Primaveras Árabes

A política de Barack Obama para o Médio Oriente desde cedo se definiu por oposição ao seu antecessor, George W. Bush, que tinha deixado os EUA embrenhado em duas longas guerras no Afeganistão e no Iraque. Obama prometeu acabar com ambas e, para o futuro, definiu uma doutrina muitas vezes resumida como “Don’t do Stupid Shit” (“Não façam coisas estúpidas”). A realidade não escutou. A vaga de levantamentos populares no Norte de África e no Médio Oriente, conhecidas como “Primaveras Árabes”, obrigou Obama a olhar para aquela região, de onde estava ansioso por sair. Enquanto caíam os regimes autoritários da Tunísia e do Egipto, ambos próximos de Washington, Obama mantinha a sua aversão ao intervencionismo – ou seja, não fazer “coisas estúpidas”. Na Líbia, apoiou “no banco de trás” a intervenção para retirar Muammar Khadafi do poder. A ausência de um plano para o futuro do país – hoje entregue ao caos e à guerra – foi reconhecido pelo próprio Obama como o maior erro da sua presidência. Na Síria, deixou Bashar al-Assad ignorar a sua “linha vermelha”, após os ataques químicos nos arredores de Damasco no Verão de 2013, assistindo à intervenção russa esmagar a oposição. A instabilidade no Magrebe e no Médio Oriente esgotaram muita da agenda internacional da Casa Branca, que tinha prometido dar prioridade a outras latitudes, especialmente a Ásia.

Conflito israelo-palestiniano

No final do ano passado, os EUA deixaram passar uma resolução da ONU a condenar a construção de colonatos por Israel nos territórios palestinianos. Dias depois, o secretário de Estado, John Kerry, fez um dos discursos mais duros dirigidos a Telavive por uma Administração norte-americana. As duas acções representam o culminar de uma relação difícil entre os dois países durante o consulado de Obama. Do outro lado, o Presidente norte-americano assistiu à radicalização de Benjamin Netanyahu, o único interlocutor que conheceu enquanto esteve na Casa Branca. Cedo percebeu que seria difícil trabalhar com o primeiro-ministro israelita no sentido de promover uma iniciativa diplomática para reatar o processo de paz israelo-palestiniano – um ponto recorrente nas agendas dos Presidentes dos EUA. O Governo israelita viu o acordo alcançado com o Irão como uma afronta e a ruptura foi consumada com a visita, em Março de 2015, de Netanyahu ao Congresso, sem ser recebido por Obama. Ao mesmo tempo, a situação de segurança na Faixa de Gaza, com uma intervenção em 2014, e em Jerusalém degradou-se nos últimos anos.

Rússia

Em 2009, para marcar um novo capítulo nas relações diplomáticas entre Washington e Moscovo, a secretária de Estado, Hillary Clinton, entregou ao chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, um botão com a palavra reset (recomeço) em russo. Um pequeno lapso, porém, transformou perezagruzka (que significa recomeço em russo) em peregruzka (sobrecarga). À época, o episódio foi recebido com sorrisos de ambos os lados, mas hoje é irresistível não o recordar com outros contornos. De facto, os anos que se seguiram foram marcados pelo aumento da tensão entre os dois países, obrigando analistas e comentadores a ir buscar os manuais de geopolítica dos anos 1980. A oposição russa, que há anos alerta para o autoritarismo do Kremlin, critica os EUA por acomodarem e tentarem apaziguar o Presidente russo, Vladimir Putin. Só a anexação da Crimeia, a guerra no Leste da Ucrânia e a interferência nas eleições presidenciais norte-americanas levaram os EUA a encarar Moscovo como uma ameaça aos valores democráticos.

Reforma da imigração

À entrada para o segundo mandato, Obama escolheu a reforma da imigração como uma das prioridades da sua Administração. As lutas partidárias no Congresso travaram a proposta, restando ao Presidente assinar uma ordem executiva com sabor amargo. O grande objectivo era a legalização de milhões de imigrantes sem visto que vivem há décadas nos EUA e que, apesar de trabalharem e estarem completamente integradas, correm o risco de deportação. O impasse no Congresso derrotou os esforços de Obama, que se decidiu a usar a sua prerrogativa presidencial e aprovou uma ordem executiva – que pode ser revertida imediatamente por um futuro Presidente – para impedir a deportação de cerca de quatro milhões de imigrantes que entraram ilegalmente nos EUA e são pais de crianças já nascidas no país.

Durante os seus oito anos, Obama tornou-se no Presidente que ordenou mais deportações na história, valendo-lhe o título de “deportador-em-chefe”. Foram mais de 2,5 milhões de imigrantes sem autorização de residência que receberam ordem de expulsão, quase todos com cadastro criminal.

Controlo de armas

Foram muitas as vezes em que Barack Obama teve de reagir a tiroteios inexplicáveis, um pouco por todo o país. Desde que tomou posse, morreram 309 pessoas em massacres. Mas nenhum o chocou tanto como o ataque na escola primária de Sandy Hook, no Connecticut, em Dezembro de 2012, quando 26 pessoas foram mortas a tiro, incluindo 20 crianças de seis e sete anos. Obama não conseguiu conter as lágrimas, enquanto prometia tomar medidas para mudar o quadro legislativo da venda e porte de armas. Porém, cinco meses depois das lágrimas de Obama, o Congresso chumbava uma proposta que reforçava a verificação dos antecedentes criminais e clínicos dos compradores de armas de fogo. Obama revoltou-se até contra o próprio partido – que detinha a maioria no Senado – e disse ter sido “um dia vergonhoso para Washington”. Tal como no caso da imigração, a Obama restou usar os seus poderes para aprovar ordens executivas que alargam a exigência de verificação do cadastro e do historial de doença mental dos compradores de armas.

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