Quando Soares também não cancelou uma visita de Estado

António Costa não vai cancelar a visita à Índia para estar no funeral de Mário Soares. Em 1985, o então Presidente actuou de forma idêntica.

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João Soares fala com o pai no almoço dos 90 anos de Mário Soares Nuno Ferreira Santos

Deveria António Costa, primeiro-ministro e secretário-geral do PS cancelar a visita de Estado à Índia que começou neste sábado e dura até quinta-feira? A pergunta tem sido feita a vários protagonistas políticos desde que se soube da morte de Mário Soares. Costa já disse que não o fará, tendo o apoio do ministro dos Negócios Estrangeiros.

Augusto Santos Silva disse mesmo que, se Mário Soares pudesse saber que o primeiro-ministro não tinha cancelado a visita, “ficaria contente porque sempre pôs o interesse do Estado e do povo português acima de quaisquer outros”.

O próprio Mário Soares fez essa opção em circunstâncias absolutamente dramáticas, em 1989, quando estava a partir para uma visita de Estado à Hungria e à Holanda. Soube naquele momento que o seu filho, João Soares, tivera um desastre de avião quando partia da Jamba (quartel-general de Savimbi em Angola) e que estava num hospital da África do Sul às portas da morte. Manteve a viagem. Maria Barroso partiu para a África do Sul.

Joaquim Vieira, na biografia que escreveu sobre o antigo primeiro-ministro e Presidente da República (Mário Soares: Uma Vida, Esfera dos Livros, 2013), relata que, na Hungria, o então chefe de Estado “desdobrava-se entre as funções de Estado e o drama familiar”, acompanhado o estado de saúde do filho através de contactos telefónicos com Maria Barroso. Só depois do regresso da visita à Holanda partiu para a África do Sul para visitar o filho, que, entretanto, tinha tido uma melhoria do seu estado clínico.

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