Um país “difícil” onde há empresas portuguesas a crescer

Na viagem à Índia, Costa leva a ciência e a economia na bagagem. Empresas portuguesas admitem que é um mercado complexo mas que a dimensão e a expansão económica valem a aposta.

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O primeiro-ministro levou consigo uma forte comitiva governativa: cinco ministros. E ainda cerca de 30 empresários TIAGO PETINGA/LUSA

Em 2011, quando o Vivafit abriu o primeiro ginásio na Índia, os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) “estavam na moda”, recorda o presidente da empresa portuguesa, Pedro Ruiz. Quase seis anos depois, o empresário, que fará parte da comitiva do primeiro-ministro António Costa na viagem de seis dias à Índia que hoje se inicia, já tem nove ginásios naquele mercado, de onde vem 10% da facturação da empresa. Se tudo correr bem, vai fechar o ano “com mais três”. E se tudo correr mesmo muito bem (se fechar uma parceria nacional com uma grande empresa indiana) “serão no mínimo mais dez”. Mas nem tudo são rosas neste gigante mercado asiático. “É um país muito difícil”, quer pela dimensão geográfica, quer pela diferença cultural. Talvez por isso a presença portuguesa ainda seja “incipiente”, liderada por empresas como a Brisa ou a Efacec, ou os maiores produtores de vinho e de azeite, “que estão lá todos”, diz Pedro Ruiz.

A economia indiana já não cresce como crescia há dez anos, mas a progressão económica pujante continua a fazer inveja à Europa e a dimensão gigante do seu mercado é sempre um chamariz para as empresas desenvolverem ali os seus negócios. Com mais de 1300 milhões de habitantes, a Índia tem quase dois terços da sua população entre os 15 e os 35 anos. Apesar de cerca de 260 milhões de indianos viverem abaixo do limiar da pobreza, há uma economia em constante expansão e os rendimentos das famílias têm vindo a melhorar.

O preço do imobiliário “ao nível de Nova Iorque” é uma das maiores dificuldades, porque esse custo não se pode passar para o consumidor (“os indianos são muito sensíveis ao factor preço e querem negociar tudo”), sublinha Pedro Ruiz; outra é reter recursos humanos. Embora “a burocracia não seja maior do que em Portugal”, Ruiz reconhece uma característica aos indianos que facilita a vida naquele mercado: “Tudo se consegue, são muito parecidos connosco e desenrascam-se”.

António Costa parte para esta viagem com “duas prioridades” na bagagem: a ciência e a economia. Há expectativas quanto à entrada de empresas em sectores como abastecimento de água, saneamento e recolha de lixo e o Governo quer ver nascer parcerias luso-indianas para mercados como o sudeste asiático ou África Oriental. A viagem serviu já para acordar com o executivo indiano a criação de um grupo de trabalho para identificar oportunidades de cooperação na área do agro-alimentar, disse ao PÚBLICO fonte oficial do Ministério da Agricultura.

Apesar de ter questionado quer a Aicep, quer o gabinete de António Costa, o PÚBLICO não conseguiu obter a lista das empresas que vão participar na viagem. São cerca de 30 e vão a expensas próprias, disse um assessor, escusando-se a avançar nomes.

Identificar parceiros locais

A Manuel Serra é uma das empresas que garantidamente não estará nesta viagem. É que a produtora de azeite, que assinou em 2013 o seu primeiro grande acordo de exportação para a Índia já tem voos marcados para Nova Deli em Fevereiro, para “duas acções de promoção directa”. O mercado indiano já representa 4% das vendas e em 2020 deverá valer “entre 10% e 12% desse total”. A Manuel Serra – que produz a marca Serrata – trouxe recentemente a Portugal os clientes (retalhistas e distribuidores) do seu importador exclusivo, disse ao PÚBLICO o director de exportação da empresa, José Ramos.

Foram conhecer a plantação de olival porque “os distribuidores privilegiam muito o contacto directo com os produtores”.

Tal como para a Vivafit, 2017 também pode ser decisivo para o crescimento da Serrata na Índia. Na viagem de Fevereiro espera fechar “um acordo tripartido com um grande distribuidor sediado em Deli” que irá “contribuir muito para o desenvolvimento do negócio”, antecipa José Ramos. Para já, no fecho de contas de 2016, a empresa prevê “recuperar todos os investimentos” que já fez com este novo mercado, que mesmo “muito diferente” em termos culturais, “não é mais difícil do que a China ou o Japão”, desde que as empresas estudem a lição antes de ir e escolham os parceiros certos. Apesar de ser a sétima economia mundial, a Índia continua a ser um dos países onde fazer negócios é um desafio. No ranking do World Bank aparece na posição 130.º entre 190 países.

A Visabeira (dona da Vista Alegre, que este ano vai abrir a primeira loja na Índia com um parceiro local) foi uma das empresas que em 2013 acompanhou a visita de Estado de Paulo Portas, então ministro dos Negócios Estrangeiros. Nesse ano assinou um acordo de parceria com uma empresa indiana, o Birla Goup, para as áreas das telecomunicações e energia. Aliás, na agenda de Costa está agora uma visita à fábrica de fibra óptica do Birla Group, em Goa, onde o primeiro-ministro também tem encontro marcado com empresários indianos.

A experiência da Sonae SR (do grupo dono do PÚBLICO) na Índia é mais recente. A marca Sport Zone estreou-se no mercado indiano em Abril de 2015, associada à Trent, empresa do grupo Tata e uma das maiores retalhistas do país. A meta era chegar às cinco lojas até ao final de 2016, mas em Dezembro já havia seis espaços Sport Zone (entre lojas de franchising e em shop-in-shops localizadas em grandes armazéns geridos pela Trent).

A dimensão do país, “a par de diferentes estágios de desenvolvimento económico entre regiões e de um sistema regulatório extremamente complexo, criam obstáculos ao conhecimento aprofundado do mercado”, disse ao PÚBLICO fonte oficial da empresa liderada por Miguel Mota Freitas. Daí a opção pelo “desenvolvimento de negócio através de parcerias locais”.

Com uma classe média a crescer em rendimento e em número, é importante estar já neste mercado “numa perspectiva de futuro”, sintetiza Pedro Ruiz. O presidente da Vivafit acredita mesmo que a Índia será “uma das três maiores potências do mundo e pode até ultrapassar a China”.

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