E que tal passar já ao plano N?

Tendo em conta o calendário, o que esperamos é que esteja já a ser negociado com Bruxelas e Frankfurt o plano N, de nacionalização. Se for preciso, que chamem António Domingues, talvez ele ajude.

Percebemos tudo. Conseguimos vislumbrar que a banca europeia não consegue atrair investidores há anos. Conseguimos perceber que a política do BCE põe grandes dificuldades à rentabilidade e consolidação do sector. Conseguimos perceber que Portugal não é propriamente o mais apetecível dos países para pôr dinheiro. Sobretudo se olharmos para o que se está a passar em Itália com o Monte dei Paschi, conseguimos perceber, portanto, como ao fim de dois anos e meio o Novo Banco chega aqui com os candidatos que tem.

Conseguimos, assim, entender o difícil que é para o Banco de Portugal negociar, que tenha testando primeiro uma venda, depois dois modelos de venda (directa ou em bolsa). Que tenha fixado uma data, que tenha posto depois outra - e agora outra. Até, se fizermos um esforço, conseguimos perceber que o banco central tenha posto grande esperança numa solução chinesa - mas que tenha sido apanhado desprevenido na sua incapacidade de apresentar garantias, deixando uma pressão enorme para a recta final, marcada para o último dia 4 de Janeiro. 

O que é muito, mesmo muito, difícil de perceber é isto: como é que foi preciso chegar a 4 de Janeiro, a tal data que era limite mas já não é, para sabermos “on the record” que o Governo não aceitava qualquer proposta que inclua uma garantia de Estado - quando há seis meses sabemos que duas das propostas em cima da mesa implicam essa garantia. Não se percebe, também, como é que o Estado não pôs isso explícito no caderno de encargos desde o início. Ou sequer se Banco de Portugal e Governo realmente concertam posições - ou se estão presos a problemas do passado. Como não se percebe se, ao fim disto tudo, alguém ainda acredita que o Novo Banco seja mesmo vendido.

É, aliás, muito perigoso que cheguemos a Janeiro assim. Na última negociação com Bruxelas, ficou definida uma data para o fecho de contas: em Agosto, ou o Novo Banco é vendido ou irá para liquidação controlada (o que ninguém sabe bem o que seja). Se o Banco de Portugal chegar ao fim desta enésima tentativa sem sucesso, sem que alguém acredite nas virtudes de um novo adiamento, só restarão sete meses (ou seis) para Mário Centeno tentar uma nacionalização, uma saída tão difícil e imprevisível que ainda poucos perceberam como se chega lá. Se demorou três meses a recapitalizar a Caixa, imaginem o perigo que isto é.

Podemos ter esperança, como pede o Banco de Portugal e também o Governo. Mas já não temos grande fé. Tendo em conta o calendário, o que esperamos é que esteja já a ser negociado com Bruxelas e Frankfurt o plano N, de nacionalização. Se for preciso, que chamem António Domingues, talvez ele ajude.

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