As borboletas diurnas de Portugal estão em risco

Cerca de 10% das borboletas que vemos durante o dia no país estão ameaçadas e as alterações climáticas são um dos factores de risco, alerta investigadora portuguesa.

Foto
A borboleta Apatura iris James K. Lindsey

À volta de 10% das espécies de borboletas diurnas em Portugal poderão estar em risco de extinção, alerta uma investigadora da Universidade de Lisboa, que avançou também que algumas entidades estão a tentar preparar uma “lista vermelha” de invertebrados.

“Diria que 10% das espécies [de borboletas diurnas] estarão ameaçadas de extinção”, frisou à agência Lusa Eva Monteiro, do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa. A especialista defende serem necessários mais estudos de campo e a elaboração da lista vermelha dos invertebrados de Portugal, um documento que junta os grupos de animais existentes, por zona, e especifica o seu estado de conservação.

Eva Monteiro avançou que o Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a Sociedade Portuguesa de Entomologia, o Instituto Português de Malacologia e o Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal estão disponíveis para colaborar com o Instituto de Conservação da Natureza e Floresta (ICNF) e elaborar aquela lista vermelha.

Nos últimos anos, segundo a especialista, há muitos registos de dados conseguidos pelas observações das pessoas, que os divulgam na Internet, e, em muitas espécies, esta participação tem contribuído para aumentar os pontos conhecidos.

O principal problema enfrentado pelas borboletas, segundo relata, é a destruição dos habitats, com diferentes causas, como o abandono ou a mudança de utilização, por exemplo, de uma pradaria natural para um terreno agrícola ou florestal, o excesso de pastoreio, os pesticidas ou às alterações climáticas.

As borboletas que estão em áreas montanhosas do país, como a serra de Montemuro ou a serra da Estrela, e que precisam de um clima mais frio e húmido, podem ressentir-se com as alterações climáticas. Para as borboletas que habitam o Sul, e preferem zonas mais ou menos húmidas, uma alteração da temperatura pode ser decisiva, e estas áreas “vão começar a desaparecer e a ser completamente secas”.

Portugal tem 135 espécies de borboletas diurnas, que são as mais conhecidas, enquanto as nocturnas são 2500. No país “não há qualquer espécie endémica”.

Entre as borboletas típicas do Mediterrâneo e que existem em Portugal, com núcleos no Norte de África e Sul da Europa, encontra-se a Euphydryas desfontainii, nome comum fritilária-mediterrânica, e a Melitaea aetherie ou fritilária-do-sul. “Estão de facto em perigo em Portugal”, alerta a cientista. “Da fritilária-mediterrânica só são conhecidas populações no Algarve” e baixo Alentejo. Vivem em habitats temporários, ameaçados devido à mudança de terrenos de baldios para agricultura ou florestação, “neste caso de eucalipto”, especifica a investigadora.

A fritilária-do-sul, agora só conhecida no Algarve e Baixo Alentejo, já teve populações perto de Lisboa, em Oeiras e na Costa da Caparica, e onde “estará extinta”, devido ao excesso de urbanização.

A Anthocharis euphenoides, ou ponta-laranja-do-douro, da família das borboletas brancas, está restrita ao Vale do Douro e encontra-se “bastante ameaçada devido à construção das barragens e à cultura intensiva da vinha e da oliveira”.

Uma espécie pouco conhecida, segundo Eva Monteiro, é a Carcharodus baeticus, a axadrezada-do-leste, e da qual não existem fotografias ou registos recentes.

Na família das borboletas mais pequenas, chama a atenção para a Phengaris alcon, ou borboleta-azul-das-turfeiras, que está ameaçada pelas alterações climáticas. “Até há pouco tempo só eram conhecidas populações no Parque Natural do Alvão e em 2011 foi descoberta uma população mais a sul, em Montemuro.”

No grupo das borboletas grandes e coloridas, que tem mais espécies em Portugal, “há uma que podemos considerar extinta, a Apatura iris, grande, preta com reflexos azuis, só conhecida em três localidades, no Gerês” e os últimos registos sólidos, refere Eva Monteiro, são do início do século XX.

Sugerir correcção
Comentar