Django em fuga na abertura do Festival de Cinema de Berlim

O filme dedicado ao lendário guitarrista jazz Django Reinhardt, realizado por Etienne Comar e com Reda Kateb como protagonista, conta a história da sua fuga da Paris ocupada pelos nazis.

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Swing, virtuosismo (e terror?). Assim será inaugurada a edição deste ano do Festival de Cinema de Berlim. As honras recaem sobre Django, filme dedicado ao lendário guitarrista jazz Django Reinhart e focado especificamente na sua fuga da Paris ocupada, em 1943, para escapar à política de extermínio levada a cabo pelo regime nazi. É o primeiro trabalho enquanto realizador de Etienne Comar, que conhecemos como argumentista de Dos Homens e dos Deuses (Xavier Beauvois), Grande Prémio do Júri em Cannes, em 2010, ou Haute Cuisine – Os Sabores do Palácio (Christian Vincent). Django Reinhart será interpretado por Reda Kateb, protagonista de Um Profeta, de Jacques Audiard.

“Django Reinhardt foi um dos mais brilhantes pioneiros do jazz europeu e o pai do swing cigano. Django retrata de forma envolvente um capítulo na vida agitada do músico e é uma história de sobrevivência”, declara o director da Berlinale, Dieter Kosslick, no comunicado emitido esta quarta-feira pela organização do festival. “O perigo constante, a fuga e as atrocidades cometidas contra a sua família não conseguiram impedi-lo de continuar a tocar."

Reda Kateb terá como companhia no elenco Cécile de France, Alex Brendemühl ou Ulrich Brandhoff. A música de Django Reinhardt é interpretada no filme pelos holandeses Rosenberg Trio. O argumento é co-assinado por Etienne Comar e Alexis Salatko.

Nascido em Liberchies, na Bélgica, em 1910, no seio de uma família cigana belga, Django Reinhardt mudou-se com os pais para Paris na infância. Crescendo rodeado dos muitos músicos da sua comunidade, cedo começou a tocar diversos instrumentos, como o banjo, o violino e a guitarra. Seria esta, porém, que o tornaria mundialmente famoso. Ainda adolescente, o seu virtuosismo atraía músicos reputados do outro lado do Canal da Mancha, curiosos por descobrir o prodígio.

A sua lenda cresceria ao escapar a um incêndio na caravana que habitava com a primeira mulher, Florine Bella Mayer. Sobreviveu, mas dois dedos da sua mão esquerda acabariam por ficar paralisados devido à gravidade das queimaduras. Tal não o impediu de continuar. Adaptando o seu estilo à restrição física, tornar-se-ia nos anos seguintes um músico respeitadíssimo, tanto na Europa como no berço do jazz, os Estados Unidos. No seu percurso, destacam-se a parceria com o violinista Stéphane Grapelli, o reconhecimento de Louis Armstrong e Duke Ellington, com quem tocou em digressões americanas, ou Benny Goodman, que o convidou por duas vezes para a sua big band, sempre sem conseguir o compromisso do volátil Reinhardt.

Quando se dá o início da Segunda Guerra Mundial, o músico encontrava-se em digressão em Inglaterra. Regressou rapidamente e Paris e foi na capital francesa que assistiu à invasão alemã. Quando a realidade da política de extermínio nazi se tornou evidente (terão sido assassinados mais de 500 mil ciganos em toda a Europa), Django Reinhart, enquanto continuava a tocar nos clubes de Paris, começou a planear a sua fuga, que conseguiria depois de algumas tentativas falhadas. Morreria em 1953, aos 43 anos, vítima de hemorragia cerebral. É considerado um dos maiores guitarristas de todos os tempos.

O Festival Internacional de Cinema de Berlim tem início a 9 de Fevereiro e prolonga-se até dia 19. O novo filme de Teresa Villaverde, Colo, estará na competição.

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