Autoridades do Amazonas tinham informação sobre plano de fuga e não pediram ajuda federal

Ministro da Justiça diz que revolta pode ter acontecido para para permitir fuga de chefes de gangues.

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Alguns familiares continuam junto à prisão à espera de notícias sobre presos Reuters

O governo do Estado Amazonas recebeu informações com antecedência sobre um plano de fuga da prisão em Manaus onde uma revolta no fim-de-semana causou 56 mortos, mas não informou o governo federal nem pediu ajuda para enfrentar o problema, afirmou nesta quarta-feira o ministro da Justiça do Brasil, Alexandre de Moraes.

Após reunião sobre a revolta com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, que visitará Manaus esta semana, o ministro disse ainda que está claro que houve falhas por parte da empresa responsável pela administração do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), e que há uma investigação em curso para encontrar responsáveis.

"Há relatos de que a Secretaria de Segurança [do Amazonas] tinha informações de que poderia ocorrer uma fuga entre o Natal e Ano Novo. Exactamente por isso, segundo as autoridades locais, foi reforçada a segurança do local", disse Moraes a jornalistas, acrescentando que o governo federal, no entanto, não foi notificado.

"O governo federal em momento algum foi informado nem foi solicitado qualquer auxílio, seja da Força Nacional ou de qualquer outro mecanismo", afirmou.

Um motim iniciado na noite de domingo dentro do Compaj, que só terminou na segunda-feira, deixou 56 mortos como resultado de uma luta entre gangues rivais ligados ao tráfico de droga.

A revolta foi a mais violenta no país desde o Massacre do Carandiru, em São Paulo, em 1992, que terminou com 111 presos mortos, quase todos devido ao confronto com a polícia, que invadiu a casa de detenção.

Além dos mortos no Compaj, mais quatro presos foram mortos na Unidade Prisional do Puraquequara (UPP), na zona rural de Manaus, elevando para ao menos 60 o número de presos mortos esta semana no Amazonas.

Moraes, que esteve em Manaus durante dois dias após a revolta, afirmou que as autoridades estão a investigar se o motim foi deflagrado para possibilitar a fuga de chefes de uma facção criminosa.

"Nunca ocorre algo assim por um único motivo. Aqui nós temos uma somatória de factores, há a questão das facções, obviamente, mas a questão também que agora ficou ciente por parte do poder público federal que havia um planeamento de uma fuga", disse.

Também nesta quarta-feira, o governador do Amazonas, José Melo, citou a falta de protecção nas fronteiras como o principal motivo para o fortalecimento do crime organizado no país devido ao tráfico de drogas e de armas.

Melo disse, em entrevista à rádio CBN, que a solução para o problema passa por reforçar a presença das Forças Armadas nas fronteiras, e propôs a criação de um novo fundo nacional para viabilizar esse reforço dos militares.

"Para resolver essa questão precisa de uma decisão nacional, um projecto nacional, em que se possa utilizar pelo menos 10% das Forças Armadas. É a minha sugestão para acabar com esse problema do ponto de vista nacional", afirmou. "Qualquer outra coisa que se fizer, é enxugar gelo."

Perguntado sobre a possibilidade de criação de um novo fundo para viabilizar o aumento da patrulha de fronteiras, o ministro da Justiça disse que não é necessário e citou a existência do Fundo Nacional de Segurança Pública.

Também nesta quarta, o papa Francisco expressou dor e preocupação pela rebelião em Manaus e fez um apelo para que todas as penitenciárias sejam locais de reeducação e ofereçam condições adequadas aos detentos.

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