Jornalistas estrangeiros são presos na Turquia

Correspondente do Wall Street Journal foi detido. New York Times vai deixar de assinar artigos com nomes de repórteres locais, para os proteger.

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Protesto contra o encerramento do jornal Zaman Daily Kursat Bayhan/REUTERS

Ser jornalista é uma profissão de alto risco na Turquia. Se é assim para os cidadãos nacionais, começa a sê-lo também para os estrangeiros: Dion Nissenbaum, o correspondente do Wall Street Journal em Istambul, foi detido pelas autoridades turcas durante dois dias e meio, sem que lhe fosse permitido contactar com a sua família ou advogados, até ser finalmente libertado no fim-de-semana. Face aos múltiplos atropelos à liberdade de imprensa – e à liberdade individual – o New York Times anunciou que deixará de publicar os nomes dos seus repórteres turcos – para os proteger.

A Turquia tem um longo historial de enviar jornalistas para a prisão – normalmente disputa o primeiro lugar com a China e os Repórteres Sem Fronteira classificam-na como um dos "predadores da liberdade de imprensa". Mas a repressão intensificou-se desde as eleições de Junho de 2015, quando o AKP do Presidente Recep Tayyip Erdogan não conseguiu maioria absoluta nas legislativas, e ainda mais após o golpe de Estado falhado de 15 de Julho deste ano. Nas contas do Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ, apresentadas em meados de Dezembro, há pelo menos 80 presos na Turquia. Mas outras contas fizeram subir o número até 140.

Além disso, mesmo no fim do ano, o Governo turco lançou uma nova vaga de detenção de jornalistas – o pretexto é espalhar propaganda terrorista. Isto significa, na vaga interpretação permitida pela lei antiterrorismo turca, escrever ou partilhar nas redes sociais informação sobre organizações que o Estado turco classifica como terroristas – o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), o Daesh, a organização do imã Fethullah Gülen, que antes era um aliado de Erdogan e agora é tido como o responsável pelo golpe de Estado de Julho.

Segundo o Wall Street Journal, Dion Nissenbaum foi detido por ter violado uma proibição governamental de publicar imagens de vídeos do Daesh. Os blackouts informativos e da Internet, quando há atentados, manifestações, ou são feitas detenções, por exemplo, são comuns. Mais de 1600 pessoas foram presas nos últimos seis meses devido à sua actividade nas redes sociais, segundo números divulgados pelo Ministério do Interior e 10 mil pessoas estão sob investigação por causa do que fazem online.

Os jornalistas detidos no fim do ano serão suspeitos de terem escrito sobre seguidores de Gülen e sobre questões curdas. Seis foram detidos por estarem alegadamente ligados a uma fuga de emails do ministro da Energia, Berat Albayrak, que é também genro de Erdogan – relata um blog do CPJ dedicado à repressão exercida pelo Governo turco sobre os jornalistas .

Um jornalista prestigiado, como Ahmet Sik, que escreve para o jornal Cumhuriyet, conotado com a oposição, e é um conhecido crítico tanto de Gülen como de Erdogan, diz a Deutsche Welle, foi detido por escrever sobre os gülenistas e sobre o grupo de extrema-esquerda Frente Revolucionária de Libertação do Povo (DHKP-C). Sik foi formalmente acusado de “espalhar propaganda terrorista”, e “insultar o Estado, o sistema judicial, os militares e a polícia.”

Vários outros jornalistas foram detidos, e impedidos de contactar com advogados ou familiares. Por exemplo, Derya Otakan está presa há nove dias e o período de detenção foi prolongado por 30 dias – entrou em greve de fome, noticiou o site Journos in Turkey.

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