Confrontos ensombram primeiro dia de cessar-fogo na Síria

Rússia espera apoio unânime do Conselho de Segurança da ONU à iniciativa diplomática que patrocina juntamente com a Turquia.

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Nos bastiões rebeldes de Idlib e Ghutta (a leste de Damasco) a trégua não foi perturbada Bassam Khabieh/Reuters

A manhã do primeiro dia da trégua patrocinada pela Rússia e Turquia ainda não tinha começado e havia já notícias de confrontos entre o Exército e facções rebeldes no Norte da Síria e nos arredores de Damasco. Incidentes que, mesmo não pondo em causa o cessar-fogo anunciado na véspera, mostram o quão difícil será mantê-lo até às negociações previstas para Janeiro, em Astana (Cazaquistão).

Esta foi a primeira vez que nem os Estados Unidos nem as Nações Unidas estiveram envolvidos nas discussões que levaram à suspensão dos combates, mas a Rússia quer que o acordo tenha o aval do Conselho de Segurança e entregou uma proposta de resolução que gostava de ver ser votada já neste sábado. “Esperamos que seja adoptada por unanimidade”, afirmou o embaixador russo na ONU, Vitali Churkin.

Palavras dirigidas a Washington e aos seus aliados europeus que, depois de terem criticado duramente o apoio russo à ofensiva do regime contra Alepo, se limitaram a classificar como “positivo” o acordo aceite por Damasco e os rebeldes para uma trégua “a nível nacional”, seguida de conversações mediadas pela Rússia, Turquia e Irão dentro de 30 dias no Cazaquistão.

A Turquia, que exigiu a exclusão das milícias curdas sírias das discussões, assegurou que os EUA seriam bem-vindos em Astana, mas a participação americana é improvável, sobretudo depois de Moscovo ter feito saber que a porta do encontro só estará aberta para a Administração de Donald Trump, que tomará posse a 20 de Janeiro.

Uma das principais dúvidas em relação ao cessar-fogo prende-se com os jihadistas da Frente Fatah al-Sham, o antigo braço da Al-Qaeda na Síria, que é um dos principais grupos armados que combatem o regime de Bashar al-Assad. Fontes da oposição síria disseram que a facção, dominante na província de Idlib, estava abrangida pela trégua, mas esse não parece ser o entendimento nem do Exército sírio nem do próprio grupo que, segundo a AFP, lançou durante a noite um ataque contra posições governamentais junto à cidade de Mahrada, na província de Hama. Horas mais tarde, aviões e helicópteros sírios lançaram “pelo menos 16 ataques” contra posições rebeldes, revelou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, acrescentando não ter informação de qualquer vítima civil desde a meia-noite.

O Observatório deu também conta de combates e ataques aéreos em Wadi Barada, um vale nas montanhas a norte de Damasco que é uma das principais fontes de abastecimento de água da capital. Na última semana, quase nenhuma água tem chegado às torneiras dos quatro milhões de habitantes da região de Damasco, com o Exército e os rebeldes, incluindo a Fatah al-Sham, a culparem-se mutuamente pela escassez – o regime acusou os grupos armados de terem contaminado com petróleo as reservas de água. 

O grupo islamista Ahrar al-Sham, dominante nos subúrbios de Damasco, fez saber também que não assinou o acordo anunciado na véspera, ao contrário do que afirmou Moscovo, por ter “várias reservas” em relação ao texto em cima da mesa. 

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