A paz de alma

O dicionário Priberam define paz-de-alma como “pessoa muito indolente, pachorrenta ou pacífica”. É o “ou pacífica” que me deita abaixo. Já não basta que, na nossa língua e cultura, ser paz-de-alma seja uma coisa negativa. São só duas das palavras mais bonitas que temos: paz e alma.

Não basta que se juntem essas duas palavras para conseguir o que qualquer pessoa (por pouco realista que seja) quer: paz de alma, paz na alma. Não. Também pode querer dizer pacífico. Simplesmente pacífico, como se isso fosse uma coisa de somenos.

No Natal algumas pessoas de certos países que, como o nosso, têm a sorte de não estarem em guerra, são mais bondosas, tolerantes e pacíficas. Saltam-lhes logo em cima os apologistas do óbvio, com ocos
lamentos que seguem sempre a mesma entediante lenga-lenga: “é pena que não seja assim durante todo o ano, blá blá blá, rebanho de hipócritas, beneméritos de calendário, blá blá blá…”

Com cada ano que passa nota-se menos esta atmosfera natalícia de paz e boa vontade. Se calhar houve muita gente que desistiu depois de tantas décadas a levar no coco por ser marcadamente menos generoso nos dias
24 e 25 de todos os meses do que hoje e amanhã. Se assim for, parabéns aos moralistas de ocasião - esses críticos devastadores do consumismo que se vêem nos shoppings a deitar fumo pela cabeça só porque os
comerciantes conseguem vender mais umas camisolas.

Haja paz na alma de quem a possa ter. Nem que seja  durante uma só noite. Nem que seja só por preguiça. Um bom Natal!

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