As cinco oportunidades perdidas para deter o suspeito do ataque em Berlim

O suposto autor do atentado num mercado de Natal na Alemanha poderia ter sido detido antes. Autoridades alemãs – e italianas – parecem não ficar bem neste retrato.

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Anis Amri é procurado por toda a Europa AFP/HANDOUT

Segundo a AFP, as autoridades alemãs desperdiçaram diversas ocasiões durante o ano que está a findar para deterem o suspeito tunisino, Anis Amri, que agora procuram por alegada autoria do atentado de segunda-feira, num mercado de Natal na Breitscheidplatz, uma praça em Berlim, onde morreram 12 pessoas e outras 48 ficaram feridas, 14 das quais com gravidade.

Anis Amri seria o condutor do camião que investiu contra uma multidão que frequentava o referido mercado numa das maiores praças da zona ocidental da cidade, numa área reservada a peões. Um atentado reivindicado pelo Daesh e que faz recordar o ataque levado a cabe em Nice, a 14 de Julho de 2016.

A polícia alemã está agora a ser alvo de severas críticas, acusada de falhas de segurança que permitiram que o suspeito do ataque tivesse escapado. Armin Laschet, o vice-presidente da União Democrata-Cristã (CDU), pediu nesta quinta-feira, numa emissão da estação de rádio Deutschlandfunk, uma melhor coordenação entre as agências de segurança do sistema federal alemão. “Não é assim que vamos garantir a segurança da Alemanha", declarou Laschet. 

Eis a lista das oportunidades perdidas para deter Anis Amri:

Arranque de inquérito difícil

A polícia demorou até se focar em Anis Amri, o suspeito de 24 anos, que desde então é procurado por toda a Europa. Antes disso, as autoridades germânicas concentraram-se num cidadão paquistanês, ilibado por falta de provas na terça-feira à tarde. Somente 30 horas depois do ataque a polícia difundiu um aviso referente a Anis Amri e dirigido às outras forças policiais da Alemanha e da Europa, após ter encontrado dentro do camião um documento de identificação. Nesta quinta-feira, acabaram por detectar as impressões digitais do tunisino dentro do veículo usado no atentado.

Conhecido como islamista

Chegado à Alemanha em Julho de 2015, Anis Amri foi rapidamente assinalado pelas autoridades locais como potencialmente perigoso. Terá viajado pelo país sob diferentes identidades, esteve em contacto com salafistas (corrente que autoriza os crentes a fazerem a sua própria interpretação dos textos do Corão) e islamistas no Oeste da Alemanha, designadamente um pregador iraquiano, de 32 anos, identificado como Ahmad Abdulaziz Abdullah A., também conhecido como Abou Walaa. Nessa região, conhecida por albergar numerosos islamistas, vivem comunidades muçulmanas que gravitam em torno da mesquita de Hidelsheim. O iraquiano acabou por ser detido em Novembro, em conjunto com quatro cúmplices, por ter montado uma rede de recrutamento em nome do grupo terrorista islâmico Daesh.

Suspeito de preparar um atentado

Anis Amri era suspeito há vários meses de querer preparar um atentado. A Justiça do estado federado da Renânia do Norte-Vestefália – o mais populoso do país e onde o suspeito viveu algum tempo enquanto aguardava pela aprovação do seu pedido de asilo – chegou a abrir um inquérito judicial contra ele.

Segundo a revista Der Spiegel, os serviços secretos descobririam, através de escutas, que o suspeito chegou a oferecer-se a responsáveis jihadistas para cometer um atentado suicida. Mas os dados recolhidos pela investigação acabariam por ser considerados demasiado vagos.

O inquérito seria transferido em Março para Berlim, cidade onde o tunisino acabou por estabelecer o seu domicílio. Durante vários meses foi sujeito a vigilância, por se temer que estaria a preparar um assalto e interessado na aquisição de armas para um eventual atentado.

Porém, o inquérito seria encerrado em Setembro, pela Justiça berlinense, depois de concluir que não haviam sido encontradas provas tangíveis.

Asilo: rejeitado mas não expulso

Anis Amir terá beneficiado de um imbróglio administrativo. O pedido de asilo que entregou no início de 2016 foi rejeitado em Junho pelas autoridades da Renânia, depois de descobrirem que Anis tinha usado diferentes identidades e nacionalidades desde que havia chegado à Alemanha. As autoridades da Tunísia, por seu turno, recusaram a entrada de Anis no país, argumentando não ser cidadão tunisino. Acabariam por aceitar que é mesmo tunisino, depois de na quarta-feira ter sido lançado um pedido de cooperação internacional para a captura do suspeito. Com isto Anis Amri pôde movimentar-se, livremente e durante meses, na Alemanha.

Já condenado em Itália?

O suspeito jamais poderia ser autorizado a entrar na Alemanha. Isto porque, segundo a imprensa alemã e italiana, viveu quatro anos em Itália, após deixar a Tunísia, passando parte desse tempo na prisão, por diferentes actos de violência e por provocar um incêndio. Assim que saiu, rumou à Alemanha, em 2014. Segundo a Der Spiegel, a Itália só o registou como impedido de viajar no espaço Schengen em 2016, com base nas razões que já o deveriam ter impedido de se mudar para a Alemanha.

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