Falta de comboios e atraso na modernização da linha do Douro preocupa operadores turísticos

O número de turistas no Douro não pára de crescer, mas operadores dos cruzeiros lamentam a falta de resposta da ferrovia, “A electrificação da Linha do Douro não pode ser uma fotocópia a baixa velocidade da construção do Túnel do Marão”, dizem

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PAULO RICCA

Os três maiores operadores de cruzeiros diário do rio Douro que em Agosto passado se viram obrigados a trocar o comboio pelo autocarro devido ao mau serviço prestado pela CP lançaram um comunicado em que apelam à modernização da via férrea classificando-a de “corredor ferroviário estruturante para a mobilidade das populações e o engrandecimento da marca turístico Douro”.

O comunicado, assinado pela Barcadouro, Rota do Douro e Tomaz do Douro, diz que “é tempo de a sociedade civil, o poder político de proximidade e as empresas da região juntarem esforços para que a integral electrificação da via até à Régua, pelo menos, seja colocada na agenda de prioridades dos responsáveis políticos”. E alertam para que a electrificação da Linha do Douro não seja “uma fotocópia a baixa velocidade da construção do túnel do Marão”.

As empresas estão preocupadas com a próxima época de Verão, dado que a procura de turistas pela região não pára de crescer. Só no segmento dos navios de cruzeiro de um dia (maioritariamente entre o Porto e Régua), o ano deverá encerrar com um total de 814 mil passageiros, estimando a APDL (Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo) uma procura de 936 mil em 2017 e de mais de um milhão em 2018.

Mas como o modo ferroviário é imprescindível para complementar os passeios turísticos no rio, estes operadores querem que “o comboio da Linha do Douro volte aos carris do progresso”.

Só que, por parte da Infraestruturas de Portugal (antiga Refer) as notícias não são boas. A electrificação de um simples troço de 14 quilómetros (entre Caíde e Marco de Canavezes) continua parada depois de um arranque que só realizou 14% da obra. Em 2015 o então presidente da Infraestruturas de Portugal, António Ramalho, anunciou a conclusão desta obra para finais de 2016, mas, agora, fonte oficial da empresa disse ao PÚBLICO que tal só acontecerá em Outubro de 2017. A empresa recusou divulgar se esta derrapagem no tempo será acompanhada de uma derrapagem financeira (a obra foi adjudicada por 6,2 milhões de euros, mas desconhece-se quanto virá a custar no final).

Se modernizar 14 quilómetros está a ser tão difícil, imagine-se os 43 quilómetros em falta desde o Marco até à Régua. Em Fevereiro deste ano, o governo anunciou para finais de 2019 a conclusão deste troço. Segundo o cronograma então apresentado, neste momento deveria estar em curso a feitura do projecto, mas o mesmo nem sequer foi adjudicado. Para já, o atraso já vai em nove meses.

E quanto ao troço Régua – Pocinho, de (70 quilómetros) cuja electrificação chegou a integrar o PETI3+ (Plano Estratégico de Transportes e Infraestruturas), foi retirado e nem sequer integra o plano de investimentos Ferrovia 2020.

Por parte da CP os operadores turísticos podem contar com algumas boas notícias. A empresa decidiu reforçar a oferta no Douro com a recuperação do antigo Comboio do Vinho do Porto que passará a circular uma vez por dia em cada sentido. A empresa pretende ainda reabilitar carruagens Sorefame (assim chamadas por terem sido construídas naquela empresa da Amadora nos anos 70) para acoplar aos comboios do Douro.

Mas após as divergências do Verão passado, a transportadora e os operadores de cruzeiro estão agora em convergência. As duas partes estão a estudar a criação de um comboio charter diário – a funcionar entre o Porto e a Régua durante o Verão – exclusivo para os passageiros dos passeios fluviais. 

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