Comandos: três militares acusados em processos disciplinares do Exército

Processos de violação de deveres militares.

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Rui Gaudêncio

O Exército anunciou na noite desta sexta-feira ter sido “deduzida acusação nos três processos” relativos ao 127.º curso de Comandos, no qual morreram dois militares.

“Relativamente aos processos disciplinares instaurados na sequência dos factos ocorridos durante o 127.º Curso de Comandos, informa-se que foi deduzida acusação nos três processos, por violação de deveres militares previstos no Regulamento de Disciplina Militar, estando a decorrer o prazo para os arguidos apresentarem a sua defesa”, diz o comunicado do Exército.

Contactado pelo PÚBLICO, o coronel Vicente Pereira, porta-voz do Exército, disse que são três os militares acusados e explicou que a nota emitida nesta sexta-feira significa que “o Exército continua a trabalhar para apurar a verdade dos factos”. Afirmou ainda que quando existirem mais dados concretos eles serão revelados aos portugueses.

No dia 4 de Setembro, durante um treino do 127.º curso de Comandos, o recruta Hugo Abreu sentiu-se "indisposto durante uma prova de tiro" e acabou por morrer na enfermaria de campanha, tendo-lhe sido diagnosticado um "golpe de calor". Outro soldado, Dylan da Silva, foi hospitalizado e viria a morrer no dia 10 de Setembro, quando aguardava um transplante de fígado. Os relatórios das autópsias que constam do processo consultado pelo PÚBLICO confirmam que as mortes não puderam ser evitadas devida à desidratação extrema resultante de um golpe de calor.

Nesse treino, depois das 14h00, e com uma temperatura acima de 40 graus Celsius, os instruendos de pelo menos um grupo de militares foram impedidos de beber água, já depois de alguns não conseguirem andar. Foram obrigados a rastejar e a rebolar. Pelo menos quatro desmaiaram. Entre esses estava Hugo Abreu. Um após outro mostravam-se muito confusos. Não respondiam. Não se mantinham de pé. Alguns foram retirados para o Posto de Socorros. A outros foi ordenado, mesmo assim, que rastejassem. 

A prova veio a resultar na entrada na enfermaria de 23 instruendos, dos quais 11 foram hospitalizados, e na morte de dois recrutas, de um grupo inicial de 67.

As mortes estão a ser investigadas pelo Ministério Público e pela Polícia Judiciária Militar.

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