Mujer Klórica traz o flamenco para “uma nova sociedade”

Alicia Carrasco e José Manuel León apresentam em Lisboa o seu trabalho Una Nueva Sociedad, proposta contemporânea baseada no flamenco. Na Culturgest, esta sexta-feira, às 21h30.

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Alicia Carrasco, Vanessa Aibar, José Manuel Léon, Audun Waage e Israel Katumba AHEKIAN

Estreou-se em 2011, em Ceuta, e agora chega a Portugal, ao palco da Culturgest, um espectáculo que através dos ritmos e tradições flamencas celebra a evolução do papel da mulher na sociedade no último quarto de século. Una Nueva Sociedad, já editado em CD, é a primeira criação do duo formado pela cantaora Alicia Carrasco e pelo guitarrista e compositor José Manuel Léon. Mas o espectáculo não assenta apenas no duo. Com eles, em palco, estarão a bailadora Vanessa Aibar (nascida em Jaén, na Andaluzia, em 1983), o trompetista Audun Waage (Bergen, Noruega, 1980) e o percussionista Israel Katumba (que nasceu em 1986 no Bairro de Mentidero, em Cádiz).

Na folha de sala, Miguel Lobo Antunes diz que o título do espectáculo “mostra a intenção dos seus criadores: a partir do flamenco tradicional, pugnar por uma ‘nova sociedade’, mais propícia à felicidade individual e colectiva.” As letras das canções (que, além de transcritas na folha de sala, são projectadas durante o espectáculo) falam, ainda segundo Miguel Lobo Antunes, “do papel social e político da mulher espanhola desde o final da Guerra Civil até hoje.” Isto “através de exemplos de acontecimentos, de situações, de pessoas”. E “também se referem a problemas que recentemente têm particular acuidade, como sejam os refugiados, as pessoas que emigram de Espanha à procura do que não encontram na sua terra, a luta pela igualdade.” A finalizar, Miguel Lobo Antunes, elogiando a estrutura do espectáculo, que classifica de “muito bom”, diz: “Este é mais um exemplo, junto com outros que temos apresentado desde há uns anos, dos caminhos que vem seguindo o flamenco contemporâneo. Respeito pela tradição, modernizando-a.”

O espectáculo começa com Las “13 rosas” (musicalmente um romance, lembrando 13 mulheres que deram a vida em luta pela liberdade das juventudes democráticas, em Madrid, depois da guerra civil de 1936), prosseguindo com Vidalikia (onde se fala “da viagem contínua de milhares de pessoas que atravessam mares e fronteiras com o único objectivo de ter uma vida melhor”), La manola (campanilleros e milonga, em memória de Clara Campoamor, 1888-1972, uma política espanhola que lutou pelos direitos das mulheres), Olores de Mejorana (cartagenera de Chacón com taranto de Almería, sobre “a difícil situação de ser mãe na prisão”), Los bienes da la tierra (seguirilla del Tio Mollino, sobre a necessidade de humanizar o sistema e permitir o acesso à água e aos alimentos às muitas pessoas ainda deles privados), Nana de Manuel (“canção de embalar evoca a maternidade ou a paternidade”), El navegar por um sueño (Soleá por bulerías, sobre “a importância da independência económica das pessoas”), Guajira de um presente sordo (“um testemunho actual da situação social, política e económica de Espanha”), Padre y segaó (cantes camperos, sobre a necessidade de ver na figura masculina uma imagem de sensibilidade e equilíbrio), Una nueva sociedad (alborea e bambera, “dois cantes de carácter feminino usados para reivindicar a honestidade e a liberdade sexual da mulher”) e La tarifeña (cantes por alegrias, onde se relatam “feitos Folclóricos” que ocorrem na costa espanhola, de Cádiz até Gibraltar).

Alicia Carrasco e José Manuel León são ambos naturais de Algeciras, Cádiz. No seu disco Una Nueva Sociedad, são acompanhados por artistas como Carmen Linares, Jerry González, Tino di Geraldo, Tomasito, Martín Leiton, David León, Juan Cruz, Javier Galiana e Cepillo, entre outros.

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