Passos compara Costa a "pirómano"

Líder do PSD deixa recado ao partido: não faz oposição a “olhar para as sondagens”. Em vez do diabo, afinal espera que em Janeiro venham os reis magos.

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Dario Cruz/Arquivo

Foi com tentativas de esclarecimento sobre a vinda do diabo, com críticas ao Governo e à esquerda e com recados para o interior do PSD sobre a forma como tem feito oposição no último ano que Pedro Passos Coelho desejou bom Natal ao seu grupo parlamentar esta quinta-feira à noite no restaurante da Assembleia da República.

Retomando uma expressão que usou em Junho numa reunião fechada do Conselho Nacional do PSD, o líder social-democrata afirmou que, ao admitir a possibilidade de discutir a renegociação da dívida a partir de 2018 em “tempos em que os mercados andam agitados”, o primeiro-ministro está a “comportar-se como pirómano, a deitar fogo à sua volta”. Se depois isso der para o torto junto dos credores “escusam de vir contar a história da Carochinha de que foi culpa do Governo anterior, porque ele não tem nada a ver com isso. Quem está a atear fogos todos os dias não somos nós; é quem está no Governo!”

Criticando o facto de o executivo de António Costa e os partidos que o apoiam andarem a “querer rever a história passada”, revertendo medidas com base nos acordos assinados à esquerda, e assim enfraquecendo a economia, Passos diz que isso mostra que o Governo “não tem capacidade, não tem golpe de asa para se reinventar e discutir acordos diferentes que estejam ao nível das expectativas das pessoas”. Ou seja, o executivo de António Costa não tem capacidade para continuar a satisfazer os partidos à sua esquerda. E Passos ainda disse que está na hora de avaliar os resultados, no país e na economia, dos acordos assinados à esquerda, antes de se abalançarem a fazer novos.

Passos enalteceu o comportamento do partido enquanto oposição, que no Parlamento tem tido uma “função adequada, essencial e construtiva” – “não ficamos pelo enunciado das matérias, apresentamos propostas, embora muitas sejam recusadas liminarmente sem haver discussão” – e aproveitou para deixarrecados para os críticos internos da sua estratégia de fazer oposição.

PSD não faz oposição pelas sondagens

“Os que nos elegeram sentir-se-ão representados com a forma como o PSD tem exercido a sua função de maior partido português e maior partido da oposição. Espero que continuemos a fazer esta afirmação do que é o nosso caminho sem ter nenhum receio de que o que defendemos pode não agradar a toda a gente.” Porque, garantiu: “Não governámos no passado a olhar para as sondagens; hoje não fazemos oposição a olhar as sondagens.”

Passos garantiu que o PSD “não está comprador de princípios”. “Os que estão cá são nossos e não os trocamos para agradar a A, B ou C (…) os nossos princípios não estão no mercado das sondagens”, vincou, citando depois Sá Carneiro: “A política sem risco não vale a pena, é uma chatice; mas sem ética é uma vergonha.”

Na mesma sala onde no Verão de 2012, um ano antes das últimas autárquicas, Passos disse “que se lixem as eleições, o que interessa são os portugueses”, e que depois acabou por perder, o líder do PSD não fez agora nenhuma referência ao desafio autárquico do próximo ano.

No final, o presidente social-democrata disse directamente querer aproveitar a presença da comunicação social para falar sobre as “teorias extraordinárias”, sobre as suas referências ao diabo. Porquê? A história é simples: a tal referência de que em Setembro vinha aí o “diabo” foi feita por Pedro Passos Coelho nesta mesma sala, no início do Verão, quando se despediu de alguns deputados antes das férias. A premonição não mais o largou e tem sido arma de arremesso da esquerda a cada oportunidade.

E numa provocação para os microfones, disse: “Desejo-vos um bom Natal, que possamos ser visitados pelos três reis magos em Janeiro. Julgo que Baltazar, Belchior e Gaspar nos visitarão por Janeiro, para as janeiras, para nos darem a boa nova. Que a boa nova pudesse ser diferente no país era o meu sincero desejo, mas isso não depende só de nós. Mas no que depender de nós, faremos de 2017 um grande ano para os portugueses.”

Um contra cinco

Nem Passos Coelho nem Luís Montenegro, que discursara antes, se cansaram de acusar a esquerda de governar com um discurso de crítica ao passado, mas a verdade é que boa parte da sua mensagem foi também baseada no passado, fazendo sistematicamente a comparação entre as políticas e as decisões do actual executivo com as suas, entre 2011 e 2015. Houve referências ao estado dos serviços públicos, às condições sociais dos portugueses, ao défice e até aos resultados na educação, mas tendo sempre no discurso o antes e o agora.

O líder parlamentar empenhou-se em ironizar e criticar a relação entre o Governo, o PS, o BE, o PCP, o “apêndice” PEV e até às vezes o PAN. Disse que “no essencial” estão de acordo, embora muitas vezes “finjam” não estar, e queixou-se, com insistência, de que agora no Parlamento são um – às vezes dois, contando com o CDS – contra cinco. Ou seja, quando o PSD diz alguma coisa, logo os outros reagem, contrapõem e atacam. E os cinco são o Governo, o PS, o BE, o PCP, e o PEV.

E acrescentou que até na comunicação social a oposição, que ganhou as eleições de 2015, é reduzida, nas notícias a uns meros 20%, quando a esquerda fica com os restantes 80%. “Às vezes tem-se a sensação – quase sempre – de que as coisas estão trocadas.”

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