Marcelo dá média de 15 a Portugal em 2016

Numa breve visita à TSF, o Presidente matou saudades das avaliações que fazia naquela rádio há muitos anos e deu notas ao desempenho do país em várias áreas.

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Marcelo dá 19 ao prestígio de Portugal, graças sobretudo a Guterres Reuters/LUCAS JACKSON

Entre o 19 para o prestígio internacional e o 11 a 13 para o quadro social e a saída da crise, Portugal alcançou uma média entre os 14 e os 15 valores, avaliou Marcelo Rebelo de Sousa esta quinta-feira na TSF. O Presidente da República visitou esta tarde as novas instalações da Global Media Group nas torres de Lisboa e não resistiu a matar saudades do programa que teve naquela estação de rádio nos anos 90, em que avaliava partidos e líderes políticos. Agora, ficou-se por uma visão mais global do país.

“Depois de um ano que se temia muito complicado”, a avaliação do professor acaba por não ser nada má, sem nenhuma nota negativa que possa pôr em causa os responsáveis políticos em que agora se inclui. À projecção internacional deu 19 valores, graças em grande medida, como disse, à eleição de António Guterres para secretário-geral das Nações Unidas, mas avaliando todo o “prestígio de Portugal no exterior”.

Ao cumprimento dos compromissos europeus atribuiu 15 valores, num reconhecimento do trabalho do Governo nesta matéria. “Está no Bom, embora com problemas”, avaliou o chefe de Estado, assinalando a “grande assimetria” verificada na situação social. As áreas com nota menor são as relacionadas com a saída da crise e o quadro social: “Aqui é apenas suficiente, entre o 11, 12, 13, umas mais no 11 e outras mais no 13”, considerou.

Já nos domínios cultural, de formação, digital e tudo o que se relaciona com as atitudes, atribuiu 16, afirmando a sua convicção de que “nos horizontes daquilo que Portugal pode ser e vir a ser”, merece um 17. Ou seja, no total, “a média deve estar entre os 14 e os 15”, afirmou.

E o défice, perguntam os jornalistas? Marcelo hesita e elabora uma resposta mais completa, preconizando a necessidade de incrementar o nível de poupança, de aumentar o investimento interno e externo, as exportações, em suma, “maior crescimento e criação de emprego para consistentemente se poder baixar o défice”.

E aqui deixou claro que o Orçamento do Estado não lhe irá causar nenhum problema, quando tiver de o promulgar, na próxima semana: “O Orçamento dá um quadro de rigor financeiro, mas precisamos de investimento, o que passa por maior confiança, a qual penso já se começa a sentir, e que se traduza em maior investimento interno”. 

Acordo na concertação social tem de ser de médio prazo

Questionado sobre a dificuldade em ser alcançado um acordo de concertação social, o Presidente sublinhou que não só os partidos políticos, mas também os parceiros sociais precisam de “estar ligados às bases”. “A estabilidade política conquistada este ano e a estabilidade financeira [obtida] com o Orçamento do Estado precisa também de uma garantia de estabilização social duradora” que vá além da paz social alcançada este ano.

Por isso, defendeu ser “útil uma convergência de metas de médio prazo”: “Para não estar todos os dias a discutir a gestão política e financeira do dia a dia, semana a semana, mês a mês, é preciso um acordo de médio prazo”, defendeu. Para Marcelo Rebelo de Sousa, o fundamental não é conseguir um acordo “pobre”, com base apenas “numa realidade de curto prazo”, como o salário mínimo nacional.

“O ideal é que haja um pacote muito amplo em cima da mesa para o médio prazo. Se se avança apenas para o curtíssimo prazo, perde-se o essencial”, afirmou, referindo-se à formação profissional, à política de rendimentos, à política fiscal e salarial "e por aí adiante".

“Problemas de percurso” na Caixa

O Presidente demorou-se também nos problemas do sistema financeiro, em particular sobre a Caixa Geral de Depósitos (CGD), em que reconheceu ter havido “alguns problemas de percurso”, mas que não ofuscam o “mérito do Governo e dos agentes, em particular o Banco de Portugal, que tiveram de equacionar tudo ao mesmo tempo”.

Marcelo recordou como, no início do ano, havia “vários problemas no sistema financeiro”, com bancos em dificuldades e em resolução, a percepção da necessidade de recapitalização da CGD e a sua gestão em fim de mandato. “Houve ali tempos, entre Abril e o Outono, em que acompanhei com atenção e preocupação” a situação da banca e “o encaixe das peças, pois umas dependiam das outras”, reconheceu.

Quanto à Caixa em particular, o chefe de Estado sublinhou que foi um processo complexo, com várias frentes – equipa, recapitalização, reestruturação e negociações com o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia – que “teve problemas de percurso, como o Governo já reconheceu e eu já reconheci”, disse. No que lhe diz respeito, referiu-se apenas à nota que emitiu em fins de Julho, quando promulgou o diploma que subtraiu a administração da CGD ao estatuto de gestor público, mas com avisos.

Marcelo criticou sobretudo o barulho criado em volta da administração da CGD: “Começava a debater-se o estatuto da gestão antes de se debater a reestruturação e a recapitalização, o que acabou por criar um ruído que se prolongou alguns meses e apagou o que era essencial”, lamentou.

“Em nenhum país do mundo, nenhum banco consegue eficazmente fazer uma reestruturação estando ao mesmo tempo a debatê-la na praça pública. É complicado”, afirmou. E recordou que isso nem sempre aconteceu noutros momentos desta crise do sistema financeiro, dizendo que “houve nos últimos anos problemas muito graves e que apesar disso houve serenidade dos portugueses que permitiu a sua resolução”.

Mas em jeito de conclusão, Marcelo fez uma última avaliação: “Globalmente espero que estejamos agora a entrar no último ciclo desta estabilização do sistema financeiro”.

E esta intervenção radiofónica, serviu para matar saudades, perguntaram os jornalistas: “Serviu. Talvez demais”, respondeu. E riu-se. 

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