“Os portugueses adoram o seu frugal Presidente”

Jornal dinamarquês conta como Marcelo poupa em tudo, até nos jantares para diplomatas, mas gasta 55 mil euros para se proteger contra hackers.

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Marcelo dispensou o Mercedes topo de gama e optou por um de gama média em renting Rui Gaudencio/Publico

Entre o divertido e o espantado, o jornal dinamarquês Berlingske apresentou Marcelo Rebelo de Sousa como um chefe de Estado muito acelerado, quase sovina e em certa medida contraditório. “Os portugueses adoram o seu frugal Presidente: Convidando os diplomatas para um jantar barato”, titula o correspondente para a Europa do Sul Martin Tønner no artigo publicado a 9 de Dezembro, dia em que Marcelo cumpria nove meses de mandato.

“Alugar, reciclar e usar. O chefe de Estado português faz da poupança um desporto sem comprometer a sua actividade acelerada”, começa por escrever o jornalista, que recorda como, logo na campanha eleitoral, Marcelo trocou as despesas com “actividades de massa, cartazes e 'spin doctors’” por meros apertos de mão e abraços enquanto “apenas vagueava pelas ruas de todo o país, a conversar com as pessoas”.

“A campanha, ao mesmo tempo intensa e surrada, assegurou-lhe a vitória com mais do dobro dos votos do mais próximo adversário. A entrada vitoriosa no palácio coquete, cor-de-rosa e presidencial, contudo, de modo algum o fez relaxar na intensa actividade nem nos princípios pela austeridade e rigor da gestão”, escreve o Berlinsgske. O jornal faz as contas às viagens de Marcelo nos primeiros nove meses: “Visitou Espanha, Itália, Reino Unido, França, Alemanha, Suíça, Moçambique, Marrocos, Brasil, EUA, Colômbia e Cuba. Isto além de um programa fortemente embalado dentro das fronteiras portuguesas”.

Começa, então, a descrever as “medidas de poupança engenhosas” de Marcelo Rebelo de Sousa, nem sempre com total rigor. O jornal diz, por exemplo, que ao contrário dos seus antecessores, Marcelo “introduziu taxas de utilizador” para os empresários e os jornalistas que o acompanham nas viagens, quando na verdade eles têm de pagar todas as despesas da sua deslocação. Algo que já acontecia nos últimos anos de Cavaco Silva, com raríssimas excepções, que aconteciam quando a Presidência fretava aviões para essas viagens.

Conta depois que Marcelo substituiu a “cara limusina de 125 mil euros por carros de aluguer, que custam metade”. O que aconteceu na verdade, segundo o relatado pelo Correio da Manhã em Julho, é que o chefe de Estado “recusou usar o Mercedes-Benz S500 Longo comprado pela Presidência da República, no final do mandato de Cavaco Silva”, para o sucessor deste, uma tradição de Belém. Marcelo doou o carro à Presidência do Conselho de Ministros, que o entregou a António Costa para uso do primeiro-ministro. O Presidente preferiu um carro alugado (renting) de gama mais baixa – um Mercedes série E 220.

O Berlingske conta também que Marcelo já se fez transportar num carro da polícia “que foi mandado para a sucata porque o motor tinha gripado”. Perante isso “o Presidente comprou outro por 8.707,56 euros e assim o carro opera agora impecavelmente”. “O valor pode ser reproduzido até ao último cêntimo porque Rebelo apresenta regularmente todos os custos ao mínimo detalhe”, acrescenta o jornalista. O artigo revela também que, na véspera da sua publicação, tinha sido servido ao corpo diplomático português “um jantar no palácio presidencial com um menu de 31 euros por pessoa, incluindo bebidas e IVA”.

“Isto pode dizer tanto sobre abusos passados como sobre as acções de poupança do Presidente, mas os portugueses estão entusiasmados”, conclui o jornalista, lembrando que o chefe de Estado conta com 70% de opiniões positivas. “Até a comunicação social tem dificuldade em dizer alguma coisa negativa”, acrescenta. Para rematar: “À excepção, talvez, de uma simples questão: porque é que ele gasta 55 mil euros para se proteger contra hackers, se coloca praticamente todas as informações em rede aberta?”

O PÚBLICO questionou Belém sobre a autenticidade destas informações – a compra do motor do carro, o almoço diplomático e os gastos com informática –, mas a Presidência recusou comentar qualquer destes assuntos.

 

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