Governo tem de começar roteiro para as alterações climáticas

Em entrevista ao PÚBLICO e à Renascença, o presidente da associação ambientalista Zero, Francisco Ferreira, diz que é "absolutamente fundamental" o compromisso traçado pelo ministro do Ambiente.

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Joana Bougard/Renascença

Esta semana, Bill Gates e 28 outras famílias ricas norte-americanas criaram um fundo de mil milhões de dólares para a investigação pública em energias limpas e fiáveis. Portugal tem condições para se candidatar a este tipo de fundos?
Em Marraquexe, Portugal fez uma promessa absolutamente fantástica, quando o primeiro-ministro António Costa disse que em 2050 Portugal seria um país neutro em carbono, ou seja, aquilo que nós conseguiremos retirar de carbono da atmosfera, nomeadamente através da floresta, deverá ser igual às emissões que vamos ter para a produção de electricidade, com resíduos, agricultura, processos industriais etc.

Para além das palavras há efectiva capacidade de investigação nesta área?
A investigação tem sido um elemento crucial para conseguirmos baixar o custo, por exemplo da energia solar: os painéis fotovoltaicos desceram quatro a cinco vezes o seu preço; os veículos eléctricos vêem o seu preço descer à custa da investigação. Portugal já tem alguma capacidade nesta área. Projectos a apresentar por mérito próprio deverão poder ter acesso se o merecerem, mas Portugal está na indústria de ponta em algumas áreas, no eólico. Temos várias fábricas de aerogeradores em Portugal…

O Orçamento de Estado para 2017 espelha essa ambição de que fala: do primeiro-ministro, das nossas capacidades?
Honestamente, temos sinais, mas poucos. Vamos ter um relatório do painel intergovernamental para as alterações climáticas, em 2018, sobre qual deve ser a trajectória económica para que o planeta não aqueça mais de 1,5 graus Celsius em relação à era pré-industrial. Para Portugal temos prometido pelo ministro do Ambiente um roteiro de como até 2050 vamos conseguir traçar esse caminho. É absolutamente fundamental que este compromisso anunciado – que só se reflectiu em algumas medidas, mas é muito pouco – aconteça desde já. A Suécia tem o mesmo compromisso para 2045 e está a definir como o vai fazer, como as suas centrais mais poluentes vão ser desactivadas, como vai ser adaptado o sistema de transportes, ao nível dos próprios estilos de vida dos bens de consumo, educação. Está tudo a ser pensado.

E estamos a fazer alguma coisa?
Em 2017 temos de fazer este planeamento à séria.

Como vê as notícias de que a exploração de petróleo no Algarve vai parar? A ambição para 2050 e esta actividade são inconciliáveis?
É inconciliável estarmos a planear uma economia sem carbono e iniciar um ciclo baseado nos combustíveis fósseis com a exploração de gás e petróleo offhsore e onshore através de técnicas altamente poluentes.

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