Rex Tillerson já foi nomeado, mas será confirmado?

A escolha de Trump para o Departamento de Estado causa reservas aos legisladores – o Kremlin elogiou-a. Mas antigos responsáveis como Dick Cheney e Condoleezza Rice dizem que a nomeação do CEO da ExxonMobil é uma "decisão inspirada".

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A audição de Rex Tillerson no Senado deverá acontecer em Janeiro Reuters/© Kevin Lamarque / Reuters

Se a nomeação de Rex Tillerson, o presidente executivo da petrolífera ExxonMobil, para o cargo de secretário de Estado foi recebida com satisfação em Moscovo, já em Washington a escolha do futuro Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para chefiar a diplomacia norte-americana não podia causar maior apreensão. São, precisamente, os aplausos do Governo da Rússia a este executivo de 64 anos, com uma longa carreira no sector petrolífero mas sem experiência política ou governativa, que incomodam e preocupam os senadores que terão de aprovar a sua nomeação.

Outras escolhas de Donald Trump provocaram celeuma, mas para já ainda nenhum dos nomes indicados pelo magnata do imobiliário para a sua Administração tinha sido “ameaçado” de chumbo no Congresso: vários legisladores consideram a ligação de Tillerson ao regime de Moscovo – e especialmente a sua proximidade do Presidente Vladimir Putin – como problemática. “Essa ligação é conhecida e causa-me grandes reservas”, disse o senador e antigo candidato presidencial John McCain.

Ainda é cedo para prever o desfecho do processo de audição, mas pelo menos um senador republicano com assento no Comité de Relações Exteriores, James Lankford, fez saber que “não está preparado para votar [a favor] de Rex Tillerson”. Outro senador republicano, Marco Rubio, que já se tinha manifestado no Twitter contra a nomeação, considerou que “o próximo secretário de Estado devia ser alguém que encara o mundo com clareza moral, liberto de conflitos de interesse e com um sentido agudo do que são os interesses da América” – a sua conclusão é a de que o nome indicado por Trump não cumpre esses requisitos. Pela voz do congressista Eliot Engel, os democratas no Congresso disseram preto no branco que consideram “a proximidade de Vladimir Putin e a Rússia” um conflito inultrapassável.

Fora dos Estados Unidos, a nomeação de Tillerson para o posto mais importante da Administração também está a ser encarada com apreensão, excepto na Rússia, onde foi saudada. O Kremlin descreveu Rex Tillerson como um “profissional” que tem uma “excelente relação de trabalho” com Putin e será capaz de estreitar a cooperação entre os dois países. Ainda mais entusiasta, o deputado russo Aleksei Pushkov escreveu no Twitter: “[Com a] fantástica escolha de Tillerson, um homem pragmático e com muita experiência da Rússia, Trump continua a maravilhar-nos.”

Na Europa, vários analistas consideram que com esta nomeação Trump está efectivamente a consagrar um novo rumo na sua política face à Rússia, mas não só: no seu novo “paradigma”, a posição europeia de oposição à expansão territorial de Moscovo fica seriamente comprometida, e as políticas recentemente adoptadas (caso das sanções) correm o risco de se tornar ineficazes.

E organizações ambientais e de defesa dos direitos humanos lamentaram a escolha, assinalando que os negócios conduzidos por Tillerson na ExxonMobil “levantam muitas dúvidas sobre o caminho da futura Administração”.

Na nota em que anuncia a sua decisão, Donald Trump louva a “tenacidade, vasta experiência e profunda compreensão da geopolítica” de Rex Tillerson, cujo percurso considera a “personificação do sonho americano”. O CEO da ExxonMobil tem mais de 40 anos de carreira na petrolífera, onde entrou como recém-licenciado da Universidade do Texas em Austin e subiu na hierarquia até ao lugar cimeiro, que ocupa desde 2006. “Rex sabe gerir uma empresa global e ninguém tem melhores relações com líderes de todo o mundo”, garante Trump.

A sua missão no Departamento de Estado, informa o Presidente eleito, será “defender os interesses vitais dos EUA e promover a estabilidade regional” – para tal, acrescenta Trump, será necessário “reverter anos de políticas externas erradas e acções que enfraqueceram a segurança da América e o seu papel no mundo”.

Apesar da renitência de vários legisladores, a escolha de Tillerson foi elogiada pelo ex-vice-presidente Dick Cheney como uma “decisão inspirada”. Para a anterior secretária de Estado Condoleezza Rice, é uma notícia “excelente” por causa da “experiência internacional e conhecimento da economia global” de Tillerson, que “acredita que a América desempenha um papel especial no mundo”. Também o antigo chefe do Pentágono Robert Gates (que foi secretário da Defesa de George W. Bush e de Barack Obama) manifestou o seu apoio à nomeação de Trump. Gates e Rice são sócios de uma empresa de consultoria que presta serviços a Tillerson – a sua recomendação do homem da ExxonMobil foi apontada por alguns republicanos do Comité de Relações Exteriores do Senado como um factor a ter em conta durante o processo de audição.

 

 

 

 

 

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