O Ornitólogo, de João Pedro Rodrigues, na primeira página do Libération

O diário considera o filme como "prodigioso". O cineasta português tem neste momento uma retrospectiva integral do seu trabalho no Centro Pompidou, em Paris, e uma exposição patente até Janeiro.

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O Ornitólogo tem estreia marcada esta quarta-feira, nas salas de cinema francesas miguel manso

O filme O Ornitólogo, de João Pedro Rodrigues, tem uma chamada de primeira página na edição, desta quarta-feira, do jornal Libération, dia em que a quinta longa-metragem do realizador português se estreia nas salas francesas. Sob o título O Ornitólogo ou as asas do desejo, o diário considera, na capa, o filme como "prodigioso" e, nas páginas interiores, escreve que o cineasta inventa "a magia de uma intersecção das inquietudes".

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A capa do Libération desta quarta-feira

"Ao fazer perder-se o seu herói nos meandros do desejo, o cineasta português João Pedro Rodrigues imagina um fresco prodigioso no seio de uma opulenta natureza povoada por um bestiário ambíguo", lê-se na crítica. O texto aponta que "o ecrã aparece então, em última instância, como a superfície que alimenta e reflecte", na qual os espectadores se aproximam "boquiabertos, procurando nos reflexos do filme algum princípio de resposta a uma questão tão cruel" como a que é levantada pela personagem Fernando, "amarrado à exigência inextinguível de um destino sedento de metamorfoses: E à força de ir onde lhe apetece, como lhe apetece, como é que acabou nestas águas negras?"

"Sem que se possa determinar evidentemente uma reciprocidade de olhares entre espécies distintas, o cineasta João Pedro Rodrigues, através de uma operação de montagem entre os planos filmados com mais de um ano de distância e em locais distintos, inventa a magia de uma intersecção das inquietudes", considera o jornal.

O Libération publica, também, uma longa entrevista com o cineasta, lembrando que "o Centro Pompidou homenageia João Pedro Rodrigues, de 50 anos, com uma retrospectiva integral", com os seus 18 filmes, entre curtas e longas-metragens, "realizados no espaço de quase trinta anos, entre Portugal e uma China múltipla, sempre em íntimo companheirismo com João Rui Guerra da Mata, director artístico e por vezes co-realizador, argumentista, editor ou actor dos seus filmes".

O jornal vespertino Le Monde, datado de hoje, mas publicado esta terça-feira, também escreveu sobre o filme, considerando que João Pedro Rodrigues alia "esplendor formal, eflorescência simbolista, imprevisibilidade total", desenhando "um dos mais belos passeios de cinema vistos há muito tempo".

"Já não temos quase nunca a oportunidade, no cinema, de nos aventurarmos nestas florestas de sonhos, cujos caminhos sinuosos e esotéricos nos fazem perder a razão. O Ornitólogo, a quinta longa-metragem a solo do português João Pedro Rodrigues, é um destes filmes, e a sua estreia tem algo de temerário nestes tempos nebulosos, em que o espectador em busca de clareza não tomará, talvez, o risco de aí se perder", descreve o jornal.

A edição desta semana da revista Les Inrockuptibles, publicada esta quarta-feira, também menciona um "cineasta aventureiro e inspirado", realizador de um "cinema sensorial, muito controlado", com um novo filme "magnífico, onde escava o seu sulco de cineasta, atento à mínima imagem que produz, sensível aos elementos, aos movimentos das almas e dos corpos".

Na edição de Novembro da revista Cahiers du Cinéma, João Pedro está igualmente em destaque na selecção de críticas aos filmes do mês e numa entrevista: Santo Ornitólogo.

A retrospectiva integral do cineasta português no Centro Pompidou decorre até 2 de Janeiro: filmes como O Fantasma (2000), Odete (2005), Morrer como Um Homem (2009) e A Última Vez Que Vi Macau (2012), assim como masterclasses e a apresentação, pela primeira vez em França, da instalação Santo António, que João Pedro e João Rui Guerra da Mata realizaram em 2013.

O Pompidou, em parceria com o Le Fresnoy - Studio National des Arts Contemporains, também encomendou um filme ao cineasta a partir da questão Où en êtes-vous, João Pedro Rodrigues? (Onde está, João Pedro Rodrigues?).

A retrospectiva é ainda acompanhada pela publicação do livro Le Jardin des Fauves, a primeira obra em francês sobre o cineasta, sob a forma de entrevistas realizadas pelo produtor e cineasta Antoine Barraud, e editado numa parceria das Post Editions e do Centro Pompidou.

O Ornitólogo é a quinta longa-metragem de João Pedro Rodrigues. Valeu-lhe o Leopardo para Melhor Realização no festival de cinema de Locarno, este ano, um festival que já o tinha distinguido, em 2012, com uma menção especial do júri, por A última vez que vi Macau, uma obra assinada com João Rui Guerra da Mata.

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