Arcos de aço vão confinar radiação em Tchernobil por um século

É uma estrutura única no mundo, concebida para encerrar o reactor 4 da central ucraniana, que continua radioactivo 30 anos após a explosão.

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O novo arco tem 108 metros de altura - é mais alto que a estátua da Liberdade, em Nova iorque SERGEI SUPINSKY/AFP

O túmulo radioactivo do reactor 4 de Tchernobil está encerrado sob dois arcos móveis de aço que são a maior estrutura móvel terrestre. Foi concebida para conter nos próximos 100 anos a radiação libertada após o maior acidente nuclear civil, que aconteceu a 26 de Abril de 1986, num ponto remoto da Ucrânia.

Com 36 mil toneladas, o novo arco foi financiado com mais de dois mil milhões de euros em donativos de 40 países ou organizações, através do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD). Foi colocado no lugar durante as últimas semanas, mas o fim da operação foi marcado nesta terça-feira com uma cerimónia em que esteve presente Pero Poroshenko, o Presidente ucraniano.

Esta estrutura parece um enorme hangar para aviões. Mas foi concebida para suportar temperaturas extremas, corrosão, tornados e sismos até 6 na Escala de Richter. Foi construída no centro da zona de exclusão de Tchernobil, num raio de 32 km em torno da central nuclear, onde ninguém pode habitar – embora alguns antigos moradores tenham regressado às suas casas, vivendo em aldeias na floresta.

A natureza reclamou a zona abandonada durante estas três décadas após o acidente – mas a radioactividade permanece no ambiente. Algumas espécies vegetais, e também animais, concentram mais a radioactividade do que outras. E mesmo os edifícios abandonados na altura do acidente – a antiga cidade industrial de Prypyat, transformada numa povoação fantasma – continuam radioactivos.

Os cerca de 50 mil residentes de Prypyat, trabalhadores da central de Tchernobil e as suas famílias, foram retirados um dia depois da explosão do reactor número 4.

A nova estrutura de confinamento é única no mundo. “É o primeiro projecto deste tipo, e espero bem que seja a última”, disse ao jornal The Guardian Vince Novak, director do BERD para a segurança nuclear. Pretende dar resposta a uma série de receios que persistiam desde o momento do acidente, como o risco do colapso do sarcófago de betão que envolvia o reactor, e apresentava rachas, ou de uma nova reacção no reactor acidentado, onde ainda há toneladas de urânio.

Durante 2017, vão ainda continuar obras no local, para acabar de montar a estrutura.

A nova cobertura em 162 metros de comprimento e 108 metros de altura – é mais alto do que a estátua da Liberdade, em Nova Iorque. O metal utilizado na construção pesa 3,5 vezes mais do que a Torre Eiffel. Os trabalhadores envolvidos no projecto não podiam montá-lo junto ao reactor, por causa da radioactividade. Tiveram de construí-lo num local afastado, para depois ser transportado até ao reactor, para ser montado. E antes disso, dezenas de milhares de toneladas de solo radioactivo tiveram de ser removidas da área de construção, para ser substituído com terra limpa. E muito do equipamento usado em todo este projecto teve de ser concebido especificamente para ele.

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