Olaria negra de Bisalhães declarada Património Imaterial da UNESCO

"Este reconhecimento internacional possibilitará partilhar o conhecimento ancestral dos oleiros de Bisalhães com o mundo", afirmou fonte da Câmara de Vila Real. Autarquia vai investir 370 mil euros até 2020 para salvaguardar tradição.

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Adriano Miranda

O processo de fabrico do barro preto de Bisalhães, em Vila Real, foi esta terça-feira inscrito na lista do Património Cultural Imaterial que necessita de salvaguarda urgente da UNESCO, anunciou fonte do município. A decisão foi tomada esta terça-feira, durante a 11.ª reunião do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, que está a decorrer em Adis Abeba, capital da Etiópia.

A Câmara de Vila Real avançou com a candidatura do processo de fabrico do barro negro de Bisalhães à lista do património cultural imaterial que necessita de salvaguarda urgente, precisamente por esta ser uma actividade em vias de extinção. A fonte do município disse que se tratou de um "processo complexo que demorou mais de um ano a ser completado", acrescentando que "este reconhecimento internacional possibilitará partilhar o conhecimento ancestral dos oleiros de Bisalhães com o mundo".

O presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos, disse que a candidatura "visa aumentar a visibilidade deste património" e representa também um "compromisso em larga escala com o plano de salvaguarda". Este plano será aplicado até 2020 e prevê um investimento de 370 mil euros. Rui Santos frisou que as medidas prevêem, em primeiro lugar, o apoio aos oleiros existentes, através da melhoria dos postos de venda e do transporte de barro. Será ainda feita uma aposta na educação e formação, através do incentivo à criação de cursos de formação, em articulação com outras instituições da cidade, desde escolas à universidade.

O autarca destacou que a salvaguarda desta arte passa pela "valorização económica da actividade". Para esse objectivo, disse que contribuirão a instalação de sinalética na freguesia de Mondrões, onde se insere Bisalhães, e a criação de percursos relacionados com o barro. Será também promovida a certificação da olaria e dos oleiros, a divulgação e promoção da arte e a diversificação das peças produzidas.

"Estamos convencidos de que a utilização do barro negro com novos 'designs' e novas utilizações dará um novo impulso a este material. Começam já a surgir algumas experiências nesse sentido, como o projecto Bizarro, que parecem indicar que este poderá ser um dos caminhos para salvar o nosso barro", afirmou Rui Santos.

O plano inclui a organização de exposições e workshops com crianças, a edição e reedição de publicações sobre o barro preto, bem como de ciclos de conferências. O autarca lembrou que o município fomentou um concurso que deu origem a um "original troféu" em barro de Bisalhães, que foi distribuído aos vencedores das corridas de automóveis de Vila Real.

Cinco oleiros em funções

O principal problema desta actividade é o envelhecimento dos oleiros. Actualmente, são cinco os que fazem desta arte a sua actividade principal e a maioria tem mais de 75 anos. O ofício é considerado duro, exigente, com recurso a processos que remontam, pelo menos, ao século XVI. O processo de fabrico inclui todas as fases que vão do tratamento inicial que se dá ao barro até à cozedura.

As peças que nascem pelas mãos destes artesãos são depois cozidas em velhos fornos abertos na terra, onde são queimadas giestas, caruma, carquejas e abafadas depois com terra escura, a mesma que lhe vai dar a cor negra.

"O processo é bastante antigo, com características muito peculiares e próprias desta aldeia de Bisalhães e que tem vindo a ser mantido com muito sacrifício por parte dos oleiros actuais", salientou o coordenador técnico da candidatura, João Ribeiro da Silva.

Em Março de 2015, o processo de confecção do barro negro de Bisalhães foi reconhecido como Património Cultural Nacional.

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