Director da saúde mental reconhece que há mais doentes do que se esperava

Álvaro de Carvalho comenta novos dados de estudo que estima que um terço dos portugueses já sofra de doenças mentais, como a ansiedade ou a depressão.

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Quase 7% dos portugueses têm perturbações mentais graves PAULO RICCA

Para o director do Programa Nacional para a Saúde Mental não é de estranhar que a crise vivida em Portugal nos últimos anos tenha tido um grande impacto em doenças como a depressão e a ansiedade. Aliás, Álvaro de Carvalho já tinha descrito muitos desses efeitos num estudo que fez ainda a pedido do anterior ministro da Saúde, Paulo Macedo. Contudo, o responsável da Direcção-Geral da Saúde (DGS) reconhece que a situação traçada pela análise apresentada nesta sexta-feira – que concluiu que um terço dos portugueses já sofre de doenças mentais – é “mais grave” do que o que se pensava.

Numa altura em que se diz que “o pior da crise já está superado”, uma equipa liderada pelo presidente do Lisbon Institute of Global Mental Health, o psiquiatra José Caldas de Almeida, apresentou nesta sexta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, dados novos, que fazem um retrato negro da saúde mental em Portugal.

Em 2008, a prevalência de doenças mentais na população portuguesa era de 19,8%. Em 2015, este valor disparou para 31,2%. A prevalência de doenças mentais aumentou em todas as frentes: os problemas ligeiros passaram de 13,6% para 16,8%, os problemas moderados de 4,4% para 7,6% e os problemas graves de 1,8% para 6,8%.

Álvaro de Carvalho garante, por isso, que as prioridades do plano estão alinhadas com muitas das recomendações avançadas por Caldas de Almeida no estudo. À cabeça surge “como muito urgente a aposta de equipas de saúde mental na comunidade”. Que equipas são estas? O director do programa da DGS explica que são equipas compostas por médicos, enfermeiros e assistentes sociais que em articulação com os centros de saúde tentam chegar aos doentes de forma mais próxima e atempada. O objectivo é agir precocemente mas, também, “alterar o modelo de prestação de cuidados de saúde mental”, ainda excessivamente concentrado nos hospitais e em unidades de internamento.

Só que também aqui Álvaro de Carvalho diz que há várias barreiras. Com os cortes dos últimos anos, muitas das equipas que estavam no terreno ficaram desmembradas. Depois, os novos centros de saúde, conhecidos como “unidades de saúde familiar”, trabalham sobretudo com base em indicadores que raramente incluem a saúde mental e, quando há dados, são registados de uma forma que não coincide com as classificações feitas com os psiquiatras – o que não permite ficar a perceber exactamente as diferentes realidades.

O psiquiatra insiste, por isso, que para a realidade ser invertida é preciso uma acção central do Ministério da Saúde que mude a forma como os hospitais são pagos. Álvaro de Carvalho defende que a saúde mental seja financiada de uma forma inovadora, como acontece em áreas como o VIH/sida. A ideia é que em vez de os hospitais receberem pelos diferentes actos que praticam, que recebam de acordo com o diagnóstico do doente. “Haveria um valor para um psicótico como há para um doente com VIH. Estou convencido de que teríamos melhores resultados”, conclui.

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