"Temos hoje consensos de regime tácitos sobre finanças públicas e banca", diz PR

Para o Presidente, o sistema financeiro é o principal problema do país, mas defende que também aqui se foi delineando um consenso "não explícito", muitas vezes "mais por aceitação do que por actuação".

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Marcelo AFP/PATRICIA DE MELO MOREIRA

O Presidente da República considera que, no actual quadro político, foram delineados consensos de regime tácitos sobre finanças públicas e banca, que englobam mesmo as forças políticas "que partiam de posições assistemáticas".

No longo discurso que fez na abertura da conferência Que Direcção para Portugal e a Europa?, promovida pelo Jornal de Negócios — e em que elogiou a estabilidade governativa —, o chefe de Estado referiu que havia dúvidas sobre se o Governo do PS, apoiado pelos partidos à sua esquerda no Parlamento, iria respeitar com rigor os compromissos europeus em matéria de finanças públicas: "Isso era uma incógnita".

"Aquando das negociações do Orçamento para 2016, também muito se especulou sobre se uma divergência acerca dos caminhos da política europeia não iria toldar a feitura do Orçamento e retirar visibilidade àquilo que era fundamental: prosseguir o caminho do controlo do défice, essencial para o não menos imperioso controlo subsequente da dívida pública", prosseguiu.

Neste contexto, afirmou: "O que é facto é que foi aprovado o Orçamento para 2016, e a sua execução mostrou, até agora, que tem acompanhado o compromisso essencial assumido perante as instituições europeias. Estamos a poucos dias da aprovação em votação final global do Orçamento para 2017, [que] dá sequência a essa tendência. E o que é facto é que, fruto do que é uma orientação de regime, assistimos a uma redução do défice de 11,2% em 2011 para 2,5% em 2016. E um compromisso de redução significativa para 2017".

Segundo o Presidente da República, esta evolução demonstra que existe "um dado adquirido" em matéria de política financeira europeia, e "esse dado adquirido, que é um consenso de regime não explícito, é fundamental para a sociedade portuguesa".

"Pode haver caminhos diversos na forma de concretização, mas tem de haver a percepção clara de que há pontos comuns, e que esses pontos comuns acabam por integrar mesmo aqueles que, à partida, se diria estarem muito afastados da aceitação desses compromissos europeus", defendeu. No seu entender, "esse é outro dado positivo destes meses" mais recentes, ter sido possível "integrar no sistema, ao menos num quadro conjuntural, realidades políticas que partiam de posições assistemáticas".

Em seguida, Marcelo Rebelo de Sousa falou sobre o sistema financeiro, que apontou como "principal problema económico e financeiro português", e defendeu que "também aqui, curiosamente, se foi delineando um consenso de regime, muitas vezes mais por aceitação, um consenso tácito, do que por actuação". "Mas o que é facto é que as mais diversas forças políticas, mesmo aquelas que tradicionalmente tinham uma posição considerada assistemática, aceitaram a premência do problema, a necessidade da sua resolução, não suscitando questões que constituíssem um ruído evitável num processo particularmente melindroso", sustentou.

Nesta intervenção, o Presidente da República salientou também a evolução positiva do desemprego e da balança corrente e de capital.

Quanto ao investimento, disse que se perspectivam "várias decisões importantes, algumas já anunciadas", e que visitará até ao final deste ano, com o primeiro-ministro, António Costa, uma "grande unidade industrial", que não nomeou. Adiantou, no entanto, que essa visita servirá para "testemunhar o arranque de um modelo que vai, a partir do ano que vem, espera-se, representar o reactivar em termos de produção num sector sensível" e que "tem provado bem" em Portugal.

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