Merkel anuncia recandidatura para "manter a sociedade unida"

No próximo ano a Alemanha enfrenta a sua eleição mais difícil, segundo a chanceler.

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Merkel quer promover os valores da liberdade e respeito na Alemanha HANNIBAL HANSCHKE/Reuters

Com os objectivos de defender os “valores da liberdade e respeito”, e de “manter a sociedade unida”, a chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou que quer continuar à frente do país um “quarto mandato completo”, e assim concorrerá às eleições do próximo ano.

Apesar de ter visto a sua popularidade diminuir, uma sondagem dizia ontem que 55% dos alemães ainda apoiam uma quarta candidatura da chanceler em 2017, e o seu partido democrata-cristão continua à frente nas intenções de voto, com mais de 30%, com grande avanço sobre o rival mais directo, o SPD, que está na casa dos 20%.

Merkel sempre afirmou que não queria sofrer o mesmo que o seu mentor, Helmut Kohl, o “eterno chanceler” que esteve 16 anos no poder, mas o desejo de estabilidade dos alemães poderá funcionar a seu favor.

Num discurso feito ontem em Berlim, Merkel disse que considerou se deveria recandidatar-se durante “tempos infindos”.  A decisão de uma quarta candidatura “após 11 anos não é algo de corriqueiro, nem para o país, nem para o partido, nem para mim”, declarou.

Acabou por decidir avançar porque acredita que tem duas vantagens: representa a estabilidade, mas pode ainda contribuir com novas ideias. “Esta eleição vai ser mais difícil do que qualquer outra” — declarou, citada pelo diário Die Welt —, “certamente desde a reunificação” das duas Alemanhas em 1991. 

“Tenho a sensação de que posso retribuir algo ao meu país e ao meu partido”, especialmente nesta época de “tempos difíceis, incertos, pode-se dizer”.

A uma pergunta de um jornalista sobre que ideias novas seriam estas, e se implicam uma reversão de alguma política, Merkel adiantou que “não se trata de corrigir, mas sim de desenvolver mais”. Deu como exemplos concretos o conseguir proteger empregos no futuro e dominar os desafios digitais.

“Não odiar, não excluir”

Apesar de ninguém ter “o monopólio da verdade”, é importante, sobretudo, manter o debate dentro dos limites democráticos, declarou Merkel: “Não odiar, não excluir.” Esta será a sua resposta indirecta ao principal desafio, o populismo anti-imigração do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que com mais de 10% nas intenções de voto, deverá entrar pela primeira vez no Bundestag (Parlamento). 

A chanceler recebeu crédito dos alemães por ter conseguido salvar o euro e, apesar da descida de popularidade, os níveis mantêm-se invejáveis. Mesmo que não permaneça no cargo, Merkel já é a única europeia na lista dos 40 líderes mundiais há mais tempo no poder, com excepção das monarquias.

Na conferência de imprensa de ontem, uma jornalista perguntou a Merkel se consideraria “quebrar o círculo vicioso” em 2021 ou se se candidataria mais uma vez, ao que Merkel retorquiu que preferia não responder: “Senão, daqui a nada, estamos em 2025.” 

Após a eleição norte-americana, com a derrota da candidata democrata Hillary Clinton e a vitória do imprevisível Donald Trump, Merkel foi apontada como a “última líder do mundo livre”. Na sua declaração, a chanceler classificou estas expectativas como ridículas e “infundadas”. “Ninguém pode, sozinho, fazer uma viragem na Alemanha, Europa, e no mundo.”

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