Pais e professores a favor de TPC, mas em discordância em relação à quantidade

A maioria é a favor dos trabalhos de casa, mas os pais acham que o volume de trabalho é excessivo.

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Pais e professores não concordam em várias matérias no inquérito Rui Gaudêncio/Arquivo

Um estudo feito a pais, alunos e professores portugueses mostra que a maioria é a favor dos trabalhos de casa (TPC), considerando que melhoram o desempenho, mas os encarregados de educação tendem a julgar que são em excesso. Alexandre Henriques, professor e autor do blogue sobre Educação "ComRegras", realizou mais de 3300 inquéritos entre os dias 3 e 13 deste mês, tendo por base os agrupamentos de escolas públicas e privadas de vários ciclos de ensino e associações de pais.

A generalidade dos inquiridos (quase 70%) concorda que os trabalhos de casa melhoram o desempenho/aproveitamento dos alunos, sendo os professores os que manifestam maior concordância com a utilidade dos TPC.

Na generalidade, do total de inquiridos, apenas 24% não considera os trabalhos de casa bem-vindos. Os TPC são considerados úteis, sobretudo, para consolidar aprendizagens, desenvolver o sentido de responsabilidade, aprender a gerir o tempo e fomentar técnicas de estudo. Mas pais e professores mostram divergência de opiniões no que toca à quantidade de TPC e ao tempo que os alunos demoram a fazê-los.

Do total de inquiridos, pouco mais de metade (53,4%) concorda com a afirmação de que os alunos têm muitos trabalhos de casa e são os professores os que mais discordam da afirmação. Já os encarregados de educação ou pais são os que mais apoiam que há demasiados TPC, superando mesmo a opinião dos alunos.

Quanto ao tempo que estimam que os alunos demorem a realizar os trabalhos de casa, mais uma vez "a opinião de professores e encarregados de educação é proporcionalmente oposta", refere o autor do estudo, num comentário aos dados a que a agência Lusa teve acesso.

Os pais têm tendência a carregar no tempo que estimam que os filhos demoram a fazer os TPC, enquanto os docentes tendem a considerar um tempo muito mais reduzido.Dos vários intervalos de tempo oferecidos como hipótese de resposta, a opção mais escolhida por professores e alunos foi "entre 15 a 30 minutos".

Já no caso dos pais, a opção mais seleccionada foi entre 45 a 60 minutos. Numa análise ao que os TPC podem ter de prejudicial, os inquiridos escolhem predominantemente a possibilidade de que os trabalhos possam levar a um sentimento de saturação escolar, além de reduzir o tempo de descanso e o tempo que as crianças e jovens passam com a família.

"São os alunos os que mais se queixam da diminuição do tempo de descanso e da saturação escolar como principais prejuízos dos trabalhos de casa. A discrepância entre estes e os professores é bastante elevada, rondando os 30%", ressalva o autor do estudo.

Globalmente, a maioria dos inquiridos discorda que o Ministério da Educação deva tomar uma posição sobre os TPC, mas esta posição resulta da discordância clara dos professores, que estiveram em larga maioria no preenchimento do inquérito. A restante comunidade educativa mostrou-se favorável à intervenção ministerial.

Quanto à ideia de uma greve aos TPC como a realizada em Espanha, mais de 68% dos inquiridos rejeitam a ideia. Só entre os alunos há concordância com a greve, ainda assim pouco mais de metade concorda (53,2%).

Alexandre Henriques considera que o estudo veio mostrar várias concordâncias entre a comunidade educativa: "Os trabalhos de casa melhoram o desempenho"; "Os professores devem atribuir trabalhos de casa"; "Os trabalhos diminuem os tempos de descanso dos alunos" e "Não deve existir uma greve aos trabalhos de casa".

Contudo, ficaram evidentes nestes inquéritos algumas discordâncias, como o excesso de TPC, o tempo que os alunos levam a fazê-los e se o Ministério da Educação deveria tomar uma posição sobre o assunto.

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