A ilha de Santa Maria está a erguer-se do fundo do mar

Magma pode estar a criar um calço por baixo da ilha açoriana, originando a sua elevação.

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Ilha de Santa Maria Rui Soares

A ilha de Santa Maria, a mais antiga dos Açores, é a única no arquipélago que está a subir relativamente ao fundo do mar, um “fenómeno raro em ilhas oceânicas”, concluiu uma investigação liderada pela Universidade dos Açores.

“O que os nossos dados indicam é que Santa Maria subiu nos últimos 3,5 milhões de anos uma média de 60 metros por cada milhão de anos, o que dá seis metros em 100 mil anos, 60 centímetros em dez mil anos e seis centímetros por cada mil anos”, disse à agência Lusa o investigador Sérgio Ávila, da Universidade dos Açores.

O biólogo marinho e especialista em moluscos marinhos, docente no departamento de Biologia da Universidade dos Açores, lidera há vários anos uma equipa de investigação multidisciplinar que se dedica ao estudo da evolução geológica da ilha de Santa Maria, com 6,1 milhões de anos.

Segundo Sérgio Ávila, “Santa Maria é uma caixinha de surpresas”, que tem permitido aos investigadores obter “muitos dados e novidades científicas”, que são depois divulgadas ao mundo em artigos científicos publicados em revistas internacionais de geologia ou paleontologia.

“Santa Maria é um caso muito curioso, que é raro em ilhas oceânicas. Está documentado noutras ilhas, como por exemplo em Cabo Verde, mas no caso dos Açores Santa Maria é a única ilha que tem essa história geológica particular”, adiantou Sérgio Ávila, revelando que a sua equipa tem publicado uma média de dez artigos científicos por ano.

Para o investigador, a “única explicação razoável” para este fenómeno raro em ilhas oceânicas é esta: “A lava que vem das profundidades da crosta oceânica a determinada altura não consegue chegar à superfície, e essas acumulações de magma criam uma espécie de calço debaixo da ilha, fazendo-a levantar.”

Esta quinta-feira, a revista Eos, dedicada às ciências da Terra, tinha um artigo noticioso sobre Santa Maria, dando conta de que a ilha inverteu o movimento de descida e tinha começado a erguer-se dos fundos oceânicos que a rodeiam. Na base desta notícia está um artigo científico da equipa de Sérgio Ávila, com os resultados desta investigação, publicado recentemente na revista Bolletin, da Sociedade de Geologia da América.

Santa Maria é um “caso muito particular”, porque “já foi ilha duas vezes”, explicou Sérgio Ávila. Na primeira vez, desapareceu devido à acção da erosão marinha, dando origem a um monte submarino de grandes dimensões. “Durante cerca de um milhão de anos, a ilha foi totalmente arrasada e desapareceu. Só reapareceu a segunda ilha por reactivação da actividade vulcânica”, contou o investigador, acrescentando que a primeira ilha de Santa Maria “afundou-se a uma taxa média de cerca de 100 metros por cada milhão de anos”.

A história da geologia e dos fósseis de Santa Maria pode ser vista num vídeo, com cerca de 15 minutos, na Casa dos Fósseis, em Vila do Porto, uma infra-estrutura que abriu ao público em Setembro deste ano para divulgar o espólio e património geológico e paleontológico da ilha desta ilha açoriana.

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