A noção perdida

É sabido que as pessoas estão a perder a noção. Sempre que há cúnfia ou bazófia a mais a causa é a mesma: perdeu-se a noção. A noção engloba a dignidade, o respeito pelos outros, um sentido de proporção e ridículo, e um mínimo de realismo, educação, decência e cerimónia. Felizmente existe um grupo de patriotas, com página no Facebook (Agência para as Noções Unidas), cujo lema é “Mudando o Mundo: uma pessoa sem noção de cada vez”.

Como grupo que ainda não perdeu a noção, não cansa os leitores com um excesso de exemplos de pessoas que a perderam. São poucos mas bons. O mais recente caso é o de José António Saraiva, dando uma entrevista
filmada ao semanário Sol, assegurando-nos que o livro dele “inaugura um tempo novo e vai ficar como um clássico da literatura política”.

Outro contemplado é Hugo Rito e o esforço para quebrar o recorde mundial a correr de costas durante 24 horas. Ilustra-se com um breve mas animado vídeo em que o atleta é visto a mostrar o que vale no
centro de Leiria. O grupo tem uma Força de Reacção Rápida que só utiliza nos casos mais extremos, como a heróica recuperação do microfone que Cristiano Ronaldo atirou para um lago em Lyon, que envolveu dois mergulhadores
profissionais e mereceu uma reportagem de 10 longos minutos no canal CM.

Em contrapartida, a noção, uma vez perdida, nunca mais se recupera. Resta-nos apenas registar as perdas.
O único antídoto de perder a noção é logo o mais caro, difícil e moroso de administrar de todos: ganhar juízo.

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