Emissões de gás com efeito de estufa estáveis, mas insuficientes para travar aquecimento

A UE (10% das emissões globais) conheceu um aumento das emissões de 1,4% em 2015. A Índia continua a aumentar as emissões (5,2% no ano passado).

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Reuters/PAULO WHITAKER

As emissões de gás com efeito de estufa (GEE), geradas pelas energias fósseis, mantiveram-se estáveis pelo terceiro ano consecutivo, um progresso inédito mas insuficiente para travar o aquecimento do planeta, concluiu um estudo divulgado nesta segunda-feira.

Esta "ruptura clara" em relação ao aumento das emissões, verificada na década anterior, foi possível graças à China, primeiro emissor mundial, que reduziu o recurso ao carvão, sublinha o Global Carbon Project, no 11.º balanço anual, realizado por cientistas de todo o mundo.

No ano passado, o total das emissões mundiais ligadas à indústria e à combustão de energias fósseis não aumentou e deverá registar uma pequena subida este ano (0.2%), considera o estudo, publicado na Earth System Science Data, à margem da conferência do clima, a decorrer em Marraquexe.

Em 2014, a subida das emissões de GEE tinha sido de 0,7%, contra um aumento médio anual de 2,3% na década 2004-2013.

"Este terceiro ano quase sem aumento de emissões não tem precedentes em período de forte crescimento económico", sublinha a autora principal, Corinne Le Quérè, da universidade britânica East Anglia.

"Trata-se de uma contribuição essencial para a luta contra as alterações climáticas, mas não é suficiente", acrescenta. "As emissões mundiais devem agora baixar rapidamente, e não apenas parar de crescer".

Para limitar a menos de dois graus centígrados (2ºC) a subida média dos termómetros em relação aos níveis anteriores à Revolução Industrial – limiar crítico estabelecido pela comunidade internacional no final de 2015, em Paris – as emissões devem baixar, em média, 0,9% até 2030, lembra este estudo.

O mundo já emitiu os dois terços do que lhe é permitido, se quiser ficar abaixo deste limite de 2ºC. Ao ritmo actual, este "orçamento carvão" será consumido integralmente nos próximos 30 anos.

"Se os negociadores conseguissem em Marraquexe acelerar a redução de emissões, daríamos um enorme passo na luta climática", insiste Le Quéré.

Devido à inércia dos GEE, que perduram muito tempo, a sua concentração na atmosfera nunca foi tão elevada como no ano passado, sublinha o estudo.

"Em 2015 e 2016, as florestas absorveram menos dióxido de carbono (CO2) devido ao calor, ligado nomeadamente ao fenómeno El Niño", explica a cientista.

Os países emissores mostraram também situações muito diversas. A China, que emite 29% dos GEE, viu as emissões baixarem 0,7% em 2005. Os Estados Unidos, segundo emissor (15%), reduziram as suas emissões 2,6% em 2015, recorrendo ao gás e ao petróleo, mais do que ao carvão.

As energias "eólica, solar e o gás continuam a substituir o carvão no consumo elétrico norte-americano", nota Glen Peters, um dos co-autores.

Já a UE (10% das emissões globais) conheceu um aumento das emissões de 1,4% em 2015. A Índia continua a aumentar as emissões (5,2% no ano passado).

A comunidade internacional, que se reúne em Marraquexe até sexta-feira, tenta chegar a acordo sobre a aplicação do acordo de Paris contra as alterações climáticas, nomeadamente para reforçar os compromissos nacionais, até agora insuficientes.

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