Marte, a próxima fronteira... também da televisão

Série ambiciosa da National Geographic estreia-se domingo às 22h30 entre a ficção e o documentário. Imagens exclusivas da SpaceX, imagens imaginadas de Marte e dos primeiros colonos.

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ROBERT VIGLASKY/NATIONAL GEOGRAPHIC CHANNELS
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Marte é uma inevitabilidade. Essa é a mensagem de cientistas e exploradores, mas também de realizadores como Ron Howard e de um canal como o National Geographic, que estreia este domingo a série que mistura ficção e documentário, nos anos de 2016 e 2033. Vemos os primeiros rostos a chegar ao planeta vermelho e os esgares daqueles que hoje, na Terra, tentam lá chegar e vêem explodir o seu foguetão. Marte é uma das maiores produções de sempre do canal e quer “acordar as pessoas e dizer-lhes – nós vamos”.

As palavras são de um big thinker, como é descrito Stephen Petranek, jornalista e autor de How we’ll live on Mars. Ele vive na urgência da divulgação de que a ida a Marte é iminente e que é preciso antecipar os problemas políticos ou éticos que se colocarão. Falávamos em Londres, no dia após a queda da sonda Schiaparelli em Marte. “É importante que as pessoas comecem a perceber que por mais apaixonados que estejamos pela Terra, não podemos cá ficar para sempre”, defende Petranek, sem medo do negrume. “Há muitas, muitas ameaças sérias à existência humana na Terra. Já devíamos ter sofrido o impacto de um grande asteróide que destruirá toda a vida humana na Terra.” Robert Braun, que trabalhou na NASA na missão Pathfinder, concorda.

Temos de ser “uma espécie viajante no espaço”, remata o jornalista norte-americano que trabalhou de perto, ao lado de Braun, com os produtores executivos Ron Howard e Brian Grazer, bem como com os guionistas e os designers de produção. “De dois milhões de anos de existência [dos humanos], só há cinco mil anos é que não somos nómadas. Está no nosso ADN que a sobrevivência é uma questão de avançar.” 

Depois do módulo Schiaparelli, depois de a China ter anunciado que quer ir a Marte, perante a pujança do trabalho da SpaceX, do empreendedor Elon Musk, e o trabalho continuado da NASA, surge agora uma série que é um “híbrido” televisivo, como lhe chamou a presidente do canal, Courteney Monroe. A série, por seu turno, leva ao lançamento de livros sobre Marte e até jogos de tabuleiro da portuguesa Majora. “Marte está no zeitgeist”, confirma o produtor Justin Wilkes.

Embora estejamos rodeados de narrativas pós-apocalípticas na ficção, esta não se quer afirmar como uma série de sci-fi. “É facto científico”, frisa ao PÚBLICO a actriz Jihae, que interpreta a astronauta Hana Seung, “e só a parte do drama é que é ficção”. Os actores treinaram com a primeira astronauta afro-americana, Mae Jemison, são ouvidos astronautas reais como Scott Kelly (que esteve na Estação Espacial Internacional) ou Jim Lovell (missão Apolo 13) e Neil DeGrasse Tyson e um sortido de cientistas da NASA integram o documentário. A equipa filmou em exclusivo a aterragem do foguetão Falcon 9 da SpaceX (e também o insucesso da tentativa anterior). Na série, garantiu Petranek na estreia no Barbican Centre, “tudo é plausível”.

“As pessoas que escrevem ficção e que procuram momentos dramáticos são muito diferentes das pessoas envolvidas na concepção de uma nave espacial. Se se escreve drama, quere-se que algo corra mal, porque cria tensão e interesse. Se se concebe um veículo espacial, não queremos que nada corra mal”, comentou sobre a negociação com os argumentistas. No que toca à ficção, o realizador mexicano Everardo Gout aconselhou-se tecnicamente com o amigo Alfonso Cuarón (Gravidade) e quis distanciar-se do filme recente O Marciano, com Matt Damon, procurando a sua “própria textura” de Marte - que filmou no Sara, em Marrocos. A montagem de ficção e documentário nos seis episódios foi “dolorosa”, diz Gout, e “não havia receita” para o formato televisivo (embora haja um exemplo recente menos feliz, na série Barbarians Rising do canal História).

E é um desafio maior pensar no que vai ser usado daqui a 30 anos numa viagem a Marte? Stephen Petranek esclarece-nos rapidamente: “Se formos a Marte nos próximos dez ou 15 anos, a maior parte do que é desenhado para isso vem da actualidade. É por isso que usamos na série o SLS [sigla em inglês de Sistema de Lançamento Espacial] – é um sistema comprovado, real, que sabemos que funciona. Não é provável que inventemos um novo tipo de plástico com o qual queiramos fazer experiências na superfície de Marte, onde não podemos corrigir os nossos erros”, diz Petranek.

É uma série ambiciosa, à imagem do sonho que é Marte. Mesmo numa conversa com Elon Musk, conta o produtor Justin Wilkes, “o cérebro não consegue processar a ideia do que é ir a Marte. É uma ideia tão grande”. 

O PÚBLICO viajou a convite do National Geographic Channel

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