Decifrar a Trumponomics, Prefácio e Capítulo I

Como irá ser a presidência de Donald Trump em termos económicos? Eis os meus melhores palpites.

Como irá ser a presidência de Donald Trump em termos económicos? Eis os meus melhores palpites.

No capítulo da imigração, o resultado final pode ser mais razoável do que o que a retórica de Trump fazia supor até agora. Trump vai ter de dar alguma coisa aos seus apoiantes, e vai descobrir que a deportação maciça de cerca de onze milhões de imigantes ilegais é impraticável e impopular. Por isso, começará a construir um muro na fronteira com o México, uma ideia dispendiosa e alienante.

Mas Trump também apontou que ia ponderar a autorização de mais imigração altamente qualificada. Uma vez que não é provável que acabe por construir o muro, ou torne o muro efectivo, esta pode ser uma forma de alcançar o ponto em que a política de imigração se devia situar, embora causando pelo caminho um forte embaraço nacional.

Se existe algum tema comum às minhas previsões, ele provém da história de Trump dar o seu nome e investir relativamente pouco capital em muitos dos seus negócios. O seu instinto natural levá-lo-á a procurar algumas rápidas vitórias simbólicas para satisfazer os apoiantes e, a seguir, obter popularidade entre as massas com uma quantidade de subsídios governamentais e endividamento como se fossem grátis, sem custos. Não me parece que a presidência de Trump venha ser reconhecida como tradicionalmente conservadora ou de direita.

As relações comerciais dos EUA deverão piorar significativamente. Antevejo Trump a renegociar o NAFTA (Acordo Norte-Americano de Comércio Livre) sobretudo implicando com o México. O México acabaria por ter de pagar um tipo qualquer de taxa, seja directa seja indirectamente, para continuar a ter acesso ao mercado dos EUA. Desse modo, Trump poderia, de facto, fazer o México “pagar o muro”. Não é surpresa que o peso tenha caído à medida que a maré virava a favor de Trump na terça-feira à noite.

Trump porá mais processos contra a China através da Organização Mundial do Comércio. Isso fará piorar as relações no Pacífico sem trazer empregos de volta para os EUA na indústria. Mas, enquanto puder afirmar que fez alguma coisa na questão da China e do comércio, Trump não deverá decidir-se a ir mais longe do que isso.

Uma possibilidade que pode ser descartada é de que a Administração Trump enfrente uma recessão e crise financeira devido à eleição de Trump e às suas ramificações para os mercados por todo o mundo. Em qualquer caso, é de esperar uma grande dose de política fiscal activista e um estímulo significativo na despesa em infra-estruturas, muito como o que economistas democratas (e alguns republicanos) há muito vinham preconizando.

Com ou sem pressões recessivas, espero um grande corte nos impostos, e não apenas para os ricos. Uma vez que as taxas de juro estão tão baixas, dará a impressão de que está ao nosso alcance, embora isso seja fazer um jogo perigoso relativamente ao futuro fiscal do país, pois não é de prever que a despesa federal seja colocada numa trajectória sustentável. Trump não vai sequer tentar cortar a Segurança Social e o Medicare.

Então e o plano de cuidados de saúde do presidente Barack Obama? Trump prometeu “revogar e substituir”, mas sem pormenores acerca da alternativa. Uma possibilidade seria revogar o mandato individual que impõe penalizações sobre aqueles que se recusarem a comprar seguro de saúde, e transformar as trocas num fundo subsidiado de alto risco para parte dos não segurados, como algumas propostas antigas dos republicanos tinham sugerido. Isso custará mais dinheiro e não resolverá os problemas de base no sistema americano de cuidados de saúde, mas liberta muitos votantes do mandato impopular e, assim, dará um impulso à popularidade de Trump.

Quanto a alterações climáticas, Trump é imprevisível. Na melhor das hipóteses, simplesmente não fará nada e evitará novos impostos impopulares, como um imposto sobre o carbono. Ainda assim, se há algum Presidente republicano que podia apostar nisto em busca de um legado, é ele. Está provavelmente pouco informado sobre estas matérias, mas as pessoas que menos sabem são também as que mais depressa conseguem mudar de opinião.

A minha maior preocupação é que a Administração Trump anuncie uma nova era de instabilidade geopolítica no Pacífico, nos países bálticos e talvez noutras partes do mundo. Isso afectaria a ordem económica global e levaria os EUA a virarem-se para dentro, causando danos na liberdade global em detrimento da república americana.

Cowen é um colunista da Bloomberg View. É professor de Economia na Universidade George Mason e escreve no blog Marginal Revolution. Entre os seus livros conta-se Average Is Over: Powering America Beyond the Age of the Great Stagnation.

[tradução de Rita Veiga]

Sugerir correcção
Comentar