Presidente da FIFA quer transparência nas transferências e plantéis mais pequenos

Em entrevista à Reuters, Gianni Infantino diz quais são as suas prioridades na sucessão a Sepp Blatter.

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"A percepção é que, muitas vezes, há coisas estranhas nestas transferências" Arnd Wiegmann/Reuters

Tornar claro o mercado de transferências e acabar com o acumular de jogadores por parte dos clubes mais ricos estão no topo das prioridades de Gianni Infantino, presidente da FIFA. Em entrevista à agência Reuters, o homem encarregue de limpar o organismo que tutela o futebol mundial depois de uma série de escândalos de corrupção sugere que tornar públicos os pagamentos a agentes pode ser uma das formas de criar mais transparência.

“Se isso é, ou não, verdade, a percepção é que, muitas vezes, há coisas estranhas nestas transferências”, diz o advogado italo-suíço de 46 anos. “Se se movimentam dois mil milhões a cada dois meses, é importante que tudo aconteça de forma transparente”, acrescenta o líder da FIFA.

Não é clara a forma como se dividem os milhões entre clubes, agentes e jogadores, sendo que a FIFA é o responsável por regulamentar as transferências entre os clubes de acordo com regras estabelecidas com a Comissão Europeia em 2001. “Após estes 15 anos, precisamos de rever este processo e dar-lhe mais transparência”, observa Infantino.

No ano passado, a FIFPro (sindicato internacional dos futebolistas) apresentou queixa na Comissão Europeia, alegando que o actual sistema funciona à margem das leis europeias da concorrência porque apenas um pequeno grupo de equipas das ligas mais ricas podem gastar verbas astronómicas por jogadores de topo.

Enquanto isso, os clubes de ligas mais pequenas queixam-se que os grandes clubes contratam jogadores demasiado cedo e, de imediato, os emprestam a outros clubes. O Chelsea, por exemplo, tem 37 jogadores emprestados. “É permitido, mas está errado. Não me parece correcto um clube açambarcar os melhores jovens jogadores e coloca-los à esquerda e à direita. Isso não é bom para os jogadores e não é bom para o clube”, diz o presidente da FIFA.

Estabelecer limites no tamanho dos plantéis, refere Infantino, pode ser uma solução. “Partilho dessa visão, temos de trabalhar nisso”, refere, não dando exemplos concretos desta prática. Mas estes não são difíceis de encontrar. O inglês Benik Afobe assinou um contrato profissional com o Arsenal em 2010, mas cumpriu seis empréstimos em cinco temporadas antes de ser vendido em 2015 ao Wolverhampton, sem nunca ter jogado pela equipa principal dos “gunners” (agora está no Bournemouth). Para além do Chelsea, Manchester City, Inter Milão, Juventus e Atalanta são algumas das outras equipas de topo com muitos emprestados.

Viajar em low cost

Ao suceder a Sepp Blatter como líder da FIFA, Infantino herdou uma organização que ainda lida com o escândalo de corrupção que envolveu dezenas dos seus membros em esquemas de extorsão, lavagem de dinheiro e subornos. O organismo tinha ainda a tradição de oferecer aos seus membros um estilo de vida “cinco estrelas”, algo que Infantino garante que vai deixar de existir.

“Temos de mostrar uma FIFA mais normal e mais humilde. Somos pessoas do futebol”, diz Infantino que, desde que foi eleito, tem viajado tanto em companhias low cost como em aviões privados, garantindo que só irá viajar em aviões privados em casos de absoluta necessidade: “Tenho voado na Easyjet e vou continuar a fazê-lo.”

Infantino reconhece que as grandes diferenças que dividem clubes ricos e clubes pobres é um assunto sério, mas não se mostra, para já, preocupado com as especulações de que os super-clubes se juntem para formar uma liga à parte: “Temos de ser criativos e encontrar formas de diálogo. Estou certo que encontraremos soluções para ajudar todos da melhor maneira.”

O presidente da FIFA também minimizou as críticas ao seu plano de aumentar os participantes nos Mundiais de futebol de 32 para 48, argumentando que a sua proposta não é assim tão radical. “Na verdade, serão 32 equipas, mas com um play-off adicional onde se pode incluir equipas de diferentes confederações e garantir que os 32 melhores passem à fase de grupos”, frisou o presidente da FIFA, dizendo que isto iria fazer crescer o entusiasmo entre adeptos, televisões e patrocinadores.

Infantino referiu ainda que a FIFA não hesitará em expulsar selecções do Mundial 2018 se os respectivos adeptos se portarem mal: “Infelizmente, o hooliganismo nos jogos e nos estádios não desapareceu. Levamos isto muito a sério e não vamos hesitar em tomar medidas que incluem expulsar selecções da competição.”

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